Machismo é um conjunto de comportamentos e ideias que supervaloriza atributos culturais relacionados ao masculino em detrimento do feminino.
Ou seja, são as crendices que consideram o homem e suas características culturais e físicas como sendo superiores às características femininas, posicionando a mulher como frágil, inferior e menos capaz.
É no machismo que encontramos, por exemplo, ideias de que o homem é a autoridade familiar – o chefe da família –, e deve ocupar posições de chefia e controle, até mesmo no ambiente corporativo.
E nesse contexto, a afirmação da imagem masculina para o homem passa pela constante defesa e demonstração exagerada desses ideais, seja para si mesmo, para outros homens ou para a sociedade como um todo.
Contudo, essa busca constante angustia o homem que, em seu desejo ansioso pela autoafirmação como um ser masculino, nega parte de sua essência humana e vive em constante tensão de ser considerado “não masculino”, o que o tornaria – neste caso – frágil, inferior e menos capaz.
E neste sentido vemos a violência entre homens, de homens contra mulheres e até de homens contra si mesmo crescer vertiginosamente.
Afinal, confusos, muitas vezes nós homens buscamos nossa afirmação como um ser masculino negando veementemente qualquer traço cultural relacionado ao feminino, mesmo sendo algo da nossa natureza humana.
Isso, aliás, alimenta muitas piadas pejorativas para nos afastar desses atributos como “que mulherzinha” e, entre os gays, com coisas como “a mais feminina do grupo”, a “passivona”, e etc.
E aqui vale a pergunta, por que ser mulher, ser a mais feminina ou ser passivo (que é relacionado por muitos com características femininas) é motivo de vergonha ou para piadas?
Machismo: uma construção cultural
Importante lembrar que o machismo é uma construção cultural, ou seja, é um artefato construído e alimentado por convenção social.
Portanto, o próprio conceito de masculino e feminino é algo passível de ser reavaliado, afinal todas as características ditas masculinas ou femininas são na verdade ideias passadas de pais e mães para filhos e filhas, às vezes em tenra idade com “inocentes” divisões como brincadeiras de meninos e brincadeiras de meninas.
E a importância de excluir o machismo da sociedade e rever os atributos ditos masculinos ou femininos é cada vez mais aparente.
Seja no número alarmante da violência crescente nessa parcela da nossa sociedade, ou no número de suicídios observados entre os homens que, por causa dessa crendice, não podem nem falar sobre seus sentimentos.
Machismo: a virilidade como autoafirmação
O machismo alimenta fortemente o conceito de hipermasculino para compor a normativa do que é ser homem e o que é ser um homem atraente e aceitável socialmente.
Nesse sentido é comum vermos as academias lotadas por homens buscando construir músculos inchados para exibir ou reforçar sua virilidade fragilizada.
Reforços como barba, pelos e outros atributos físicos ditos masculinos também aparecem como artifícios para reforçar o hipermasculino, inclusive entre gays em busca da normatização social.
A violência é outro recurso fortemente usado para afirmação do masculino, seja nas brincadeiras entre homens, seja na violência no trânsito, ou mesmo em conceitos como “não levo desaforo para casa”, “dou porrada mesmo” e outros.
Não fosse suficiente o reforço do hipermasculino com esses conceitos estreitos, a negação do feminino ganha força com limitações sobre que roupas a usar, que tarefas domésticas fazer e até negar sentimentos humanos básicos com conceitos como “homem não chora”, e “homem não demostra afeto por outros homens, nem mesmo familiares como seus pais ou seus próprios filhos”.
A questão é que “O machismo é uma ideia do que é ser homem que na verdade sacrifica um monte de características humanas e que acaba fazendo com que ele [o homem] perca o interesse genuíno pelo que ele está vivendo. É uma grande cegueira. Em ultima instância o machismo é uma grande cegueira” – Fred Mattos (Psicólogo e Escritor)
Machismo: uma luz no fim do túnel
O crescimento do feminismo, que se opõe ao machismo colocando homens e mulheres como iguais, vem trazendo provocações importantes para esses conceitos limitados e colocando luz sobre um debate cada vez mais necessário.
Hoje, homens também vem entrando na conversa e se permitindo questionar os ideais masculinos, rompendo a barreira imposta socialmente e repensando seu papel social e humano.
Desses movimentos, posso citar o documentário “The Mask You Live In” (A máscara com a qual você vive, em tradução livre), que aliás inspirou esse texto.
O documentário, disponível na Netflix, mostra o problema do machismo nos EUA, inclusive entre jovens e meninos que tem parte de sua personalidade podada por noções irreais do que é ser homem.
Em certo momento, um professor pede para seus alunos adolescentes escreverem sobre uma máscara o que eles mostram para sociedade e atrás dela o que eles realmente sentem.
Não é surpresa que na parte externa aparecem coisas como felicidade e divertido, enquanto na parte interna figuram tristeza, medo e raiva.
O mais interessante é observar a falta de com quem falar sobre esses sentimentos entre esses jovens, afinal familiares e amigos muitas vezes só reforçam os ideais de hipermasculino presente no machismo.
Assim, não é surpresa vermos jovens explodindo, como uma panela de pressão, de tempos em tempos.
Seja em ações de violência contra si ou mesmo contra várias pessoas usando, por exemplo, armas de fogo.
Outro interessante vídeo para assistir nesse sentido é o Precisamos falar com os homens? Uma jornada pela igualdade de gênero, um documentário brasileiro que aborda o assunto.
O interessante aqui talvez seja nos perguntarmos sobre o que estamos alimentando nas nossas vidas e para nossos amigos e familiares.
Não seria melhor vivermos em um mundo onde possamos ser o que quisermos, independe de ser homem, mulher ou até não nos enquadrarmos em nenhum dos dois?
Creio que isso só depende de nós mesmos e da nossa capacidade de nos reinventarmos, afinal muitos de nós (como eu mesmo) crescemos em um mundo machista, então temos que reaprender a viver sem esses conceitos velhos e nocivos.
E eu, por exemplo, sei que só dei os primeiros passos nesse reaprendizado.
Referências
The mask you live in. Documentário. Disponível em: <http://therepresentationproject.org/film/the-mask-you-live-in/>. Acesso no dia da postagem.
ONU Mulheres. Disponível em: <https://www.onumulheres.org.br/destaques/precisamosfalarcomoshomens/>. Acesso no dia da postagem.