Bug Chaser é uma peça que mostra a conversa entre um homem que buscou contrair o HIV e uma inteligência artificial futurista que tenta analisar suas escolhas.
Sobre a peça Bug Chaser
Em um futuro distópico, uma inteligência artificial estuda a vida de um homem para entender as escolhas que o levaram a contrair um vírus ainda sem cura: o HIV.
Inicialmente atribuída especificamente a homossexuais, o vírus aparece como um personagem onipresente que permeia a vida de Mark, o personagem principal, e o levou a ficar internado em quarentena na sala de um laboratório frio e futurista.
Nessa sala, acompanhamos uma intensa conversa entre o homem e a máquina que o investiga, o que traz à tona lembranças de uma vida machucada e difícil.
Vemos situações dolorosas, duras, humilhantes e brutais construindo um homem insensível (ou sensível suficiente para sentir a dor daqueles momentos), que aprende a brincar com amores e pessoas em busca de um suicídio velado.
Entre amores que duram e os que não perduram, a sorte (ou falta dela) o faz passar imune ao vírus por boa parte da sua vida, propositalmente arriscada.
Um namoro suicida com um vírus – que chega a ser visto como libertador e um ato e provocação a sociedade –, percorre a história que apresenta como a homofobia também coloca a nos mesmos, homossexuais, como um vírus a ser exterminado.
Em certo momento o personagem ainda mostra sua fragilidade ao compreender o doente como alguém passível de cuidados, atenção e carinho, mesmo de estranhos, algo quase não presente em sua vida.
Não fosse suficiente sua situação do vírus, o personagem ainda está em busca de um transplante para seu coração doente, que será dado ou não baseado na análise construída pela fria inteligência artificial.
E nessas colisões de histórias, drogas, doenças e amores, acompanhamos uma narrativa altamente envolvente e por vezes perturbadora.
A entrega do ator ao personagem
Com um texto bem escrito que viaja entre o poético e o cru, um destaque fundamental da peça fica com o ator central.
Ricardo Corrêa, que assina a dramaturgia da peça, vive o personagem principal com um entrega e um desempenho admirável.
Dando vida ao texto forte com ações e expressões tão fortes quanto, ele rouba toda nossa atenção e nos leva magistralmente pelo enredo.
Não conseguiria falar das cenas em que mais fiquei admirado, pois foram muitas, mas gostaria de destacar as cenas ocorridas em um Karaokê e a cena final como as que mais me encantaram.
Recomendo fortemente a quem tiver a oportunidade que assista a peça e discuta entre seus amigos e conhecidos sobre esse tema tão importante.
Informações sobre a peça
Título: Bug chaser: Coração Purpurinado
Temporada atual: 04 de Outubro a 30 de Novembro de 2017
Dramaturgia: Ricardo Corrêa
Direção: Davi Reis
Ingressos: https://compreingressos.com/espetaculos/9401-bug-chaser-coracao-purpurinado#cabecalho
Mini glossário concedido na peça
Bug Chaser (Caçador de vírus): Termo utilizado para se referir a uma pessoa soronegativa que busca se tornar soropositiva.
Gift Giver (Doador de presente): Pessoas soropositivas que aceitam contaminar outras pessoas, nesse caso, o HIV também é referido como “gift”, em tradução livre, “presente”.
Bareback: Termo de origem inglesa que denomina um estilo de montar um cavalo sem o uso de sela e tem sido usado para descrever o envolvimento intencional, deliberado e consciente, em relações sexuais sem o uso do preservativo.
Roleta russa ou festas de conversão: Termos usados para se referir a festas organizadas com o propósito de “converter” caçadores de vírus.
Capa: Termo para se referir a preservativos/camisinha.
Carimbo: Termo utilizado para especificar o ato de contaminação proposital. O “carimbo” se dá em uma relação sexual onde somente quem está contaminado é ciente da sua sorologia e o “carimbado” não está de acordo com a contaminação, ao contrário da relação entre os Gift givers e Bug chasers onde a transmissão do vírus é consensual.