Plataforma de entretenimento social é o novo formato das empresas de tecnologia antes conhecidas por serem redes sociais, mas agora focadas em entretenimento.
Isso porque atualmente as conexões entre conhecidos já não tem grande valor e tudo vem se tratando do grau de entretenimento que podemos obter nas linhas de tempo infinitas desses aplicativos.
Quando surgiram, há décadas, o foco dessas soluções tecnológicas era nos conectar com amigos e conhecidos com quem não tínhamos contato.
Uma maneira de acompanhar a vida e novidades dos amigos, de saber como estava aquele antigo colega da escola ou mesmo nos conectar com novas pessoas que conhecíamos num encontro no final de semana.
Porém, aos poucos essas plataformas de tecnologia foram ganhando mais dinheiro ao entregar outro tipo de benefício: o entretenimento.
Projetando desconhecidos a patamares de fama inimagináveis e trazendo com isso uma fortuna para uma vida inteira de luxo, esses canais foram moldando e sendo moldados como uma gigante plataforma de entretenimento social.
As postagens deixaram de ser focadas em jantares com amigos, pequenas conquistas ou fotos espontâneas em viagens.
Agora é sobre entreter e ser entretido, o que leva nós, usuários dessas plataformas, a pensar os conteúdos, os ângulos, os figurinos e até incluir algumas piadas antes de postar para ganhar algumas curtidas a mais.
E não basta mais atingir amigos e conhecidos, a meta é ter milhões de seguidores desconhecidos e sem uma conexão profunda que alavanquem a tão sonhada fama e fortuna.
Usuários são a nova mão-de-obra barata (às vezes gratuita) para a plataforma de entretenimento social alavancar seus resultados
Abrir as antigas redes sociais, hoje plataforma de entretenimento social, demonstra claramente uma nova missão para quem está nesses espaços: ganhar mais notoriedade ao entreter infinitamente um público cansado da realidade.
Assim, milhões de pessoas trabalham arduamente em busca de serem os melhores profissionais de entretenimento, para então brilhar nesses espaços e alcançar o holofote que poderá mudar a dura vida que vivemos.
Porém, como sempre, esse holofote vem muito mais do acaso e da sorte do que da competência e da execução.
Afinal, são muitas pessoas extremamente competentes, com dedicação diária, produzindo conteúdo para que no máximo um ou dois consigam uma cadeirinha no olimpo do capitalismo, com fama e fortuna.
E a plataforma de entretenimento social não facilita, sendo regida por um algoritmo muito bem treinado que busca dedicação total para talvez exibir um fragmento de segundo que traga alguma alegria a mentes cansadas e gere engajamento para o usuário, ou melhor, para o produtor de conteúdo.
Engajar, aliás, nunca foi tão importante.
Em busca desse engajamento vale tudo, piadas duvidosas, exposição do corpo, erotismo, preconceito, promessas infundadas de ganhos fácies e a estratégia mais bem-sucedida de todas: provocar raiva.
Nada é mais engajador que a raiva.
Essa estratégia é tão efetiva que tem destaque inclusive em um dos mais tóxicos dos ambientes sociais: a política.
Se provocar raiva o bastante, a recompensa pode vir na forma de um cargo de vereador, de deputado, de senador e até de presidente.
Mas para isso é preciso assumir também esse novo papel de “produtor”.
Isso significa que nesse novo formato das antigas redes sociais não basta registrar e compartilhar sua vida ou seu conhecimento, mas sim de pensar e produzir um conteúdo, mesmo manipulado e fictício, que gere muito engajamento.
Porém, é importante lembrar que, enquanto uma pessoa sortuda ganha seus milhões de seguidores, a plataforma de entretenimento social tem muitos milhões de usuários.
Usuários estes que servem de pelo menos duas maneiras:
- Usuários produzindo mais entretenimento para que a plataforma tenha conteúdo infinito sem investir nada ou quase nada por ele.
- Usuários consumindo entretenimento alheio por horas e esbarrando, vez ou outra, nas propagandas que bancam esse prazer da distração que nunca acaba.
Ou seja, é importante lembrar que o dono da banca ainda tem que ser o maior vencedor.
A única coisa nova é a produção social ou emergente
Contudo, vale lembrar que nada disso é novo.
Entretenimento já é uma indústria financeiramente muito bem-sucedida há muito tempo, agora só se moldou definitivamente em uma nova plataforma de entrega.
Talvez uma plataforma onde o conteúdo seja ainda mais fugaz, emergente e passageiro, mas nada de novo por aqui.
A novidade é que agora todos podem ser os tais “produtores de conteúdo” a partir de tecnologias mais baratas, como os celulares, por exemplo.
Portanto, essas plataformas de entretenimento social não dependem de gigantes empresas com suas câmeras de alta tecnologia e roteiristas bem treinados, apenas de muitas pessoas sonhando com uma vida melhor, se dedicando avidamente e postando incansavelmente.
Se isso é saudável para as pessoas que produzem o tempo todo e talvez não alcancem muita coisa, é algo a se discutir, mas fato é que atualmente muita gente consegue estar na plataforma postando seu próprio conteúdo.
Encontrar sustentabilidade nessa produção constante onde até a vida pode deixar de ser uma experiência para se tornar um roteiro também vai ser um desafio para muitos de nós.
Enquanto isso, as plataformas de entretenimento social investem mais em algoritmos capazes de tornar os produtores menos importantes e a plataforma mais relevante.
Afinal, não é um bom negócio usuários gostando mais das pessoas do que da plataforma em si.
Principalmente por que a plataforma é a dona da bola, da quadra e do jogo.
Quando a moeda é o entretenimento, todos devem gerar distração
Em busca de mais visibilidade que vai trazer alguma fama, dinheiro e negócios, a meta parece ser todos se tornarem os tais profissionais de entretenimento.
Pequenos negócios e empreendedores se veem agora estudando sobre como tornar tudo que fazem mais divertido e empolgante.
Já não basta ser um bom profissional técnico, para ganhar no atual jogo dos negócios a busca é desenvolver vídeos empolgantes, fotos encantadoras e textos impactantes.
Isso pode ser um desafio para profissionais que passaram a vida estudando e se aprimorando tecnicamente e agora podem ver seus negócios perderem espaço para um vídeo viral polêmico ou o profissional experiente perder seu cargo para um famoso da internet recém-formado.
Os desafios são muitos para viver na era das plataformas de entretenimento social e cada vez mais parece ser necessário alguma fama até mesmo para conseguir pagar os boletos do dia a dia.
Talvez mais um passo para aprendermos e nos aprimorarmos, mas para quem não tem isso muito natural, como eu mesmo, o desafio parece ser grande.
Uma dica de ouro: Tenha um backup do seu conteúdo
Para quem decidir se aventurar nas plataformas de entretenimento social em busca de alavancar seus negócios, seu trabalho ou seus ganhos, vale uma dica importante: tenha um backup.
Postar nessas plataformas de entretenimento social é simples e fácil, mas o terreno ainda pertence a um terceiro, e não a você.
A ideia de ter um perfil pode dar uma sensação de que algo ali pertence a você, mas não é verdade.
As plataformas podem, a gosto delas, excluir sua conta, seu acesso ou te bloquear, se assim desejarem.
E hoje nada pode ser feito para mudar isso, afinal são tecnologias não regulamentadas e fazem o que bem entendem com seu perfil e conteúdo.
Então, ter um espaço seu com seu conteúdo ainda é uma estratégia fundamental para não perder anos de trabalho porque alguém decidiu que você não pode mais ter acesso a um determinado espaço digital.
Referências
A deriva medieval da Internet. Outras Palavras. Disponível em: <https://outraspalavras.net/tecnologiaemdisputa/e-a-internet-nos-conduzira-a-idade-media/>. Acesso no dia da postagem.
Lyra Ribero. Disponível em: <https://www.studiolyra.com.br/>. Acesso no dia da postagem.
André Oliviera. Disponível em: <https://www.linkedin.com/in/andreoliveiramkt/>. Acesso no dia da postagem.