Fundamentos do design thinking: O 1º artigo sobre o tema

Considerado um dos fundamentos do design thinking, Richard Buchanan escreveu primeiro artigo em larga escala sobre o tema, o Wicked Problems in Design Thinking.

No artigo, o professor de design e inovação, apresenta as características dos Wicked Problems (ou problemas ruins em tradução livre) e como eles interagem com o pensamento do design (em inglês, design thinking).

O autor foi um dos primeiros a abordar o termo Design Thinking para se referir e provocar a disciplina do design não só para os profissionais desenvolvidos de maneira formal em academias, mas para todos os homens e mulheres que praticarem o design em suas rotinas para resolver problemas cada vez mais complexos.

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Acompanhe, a seguir, algumas citações desse importante documento para a disciplina.

Fundamentos do design thinking: Citações selecionadas do artigo de Richard Buchanan

Não existe área da vida contemporânea onde o design – o plano, o projeto, ou a hipótese de trabalho que constitui a intenção nas operações realizadas – não seja um fator significante para a formação da experiência humana.” (BUCHANAN, 1992, p. 8)

O desafio é ganhar um entendimento mais profundo do pensamento do design (design thinking) possibilitando então uma maior cooperação e benefícios mútuos entre aqueles que aplicarem o pensamento do design para problemas complexos e assuntos substanciais. Isso ajudará a fazer a exploração prática do design, de forma mais inteligente e significativa, particularmente nas artes da produção.” (BUCHANAN, 1992, p. 8)

Por ‘arte liberal’ eu quero dizer uma disciplina de pensamento que pode ser compartilhada de alguma forma por todos os homens e mulheres em suas vidas diárias e, por sua vez, dominada por algumas poucas pessoas que praticarem essa disciplina com uma visão distinta avançando, por vezes, para novas aplicações inovadoras.” (BUCHANAN, 1992, p. 8)

De fato, sinais, coisas, ações e pensamentos não são só interconectados, eles também se interpenetram e se mesclam no pensamento do design contemporâneo com consequências surpreendentes para a inovação. Essas áreas sugerem uma linhagem do passado e presente do design, assim como um ponto para onde o design vai no futuro.” (BUCHANAN, 1992, p. 10)

[…] os produtos do design gráfico eram vistos como ‘coisas’ ou ‘entidades’ (textos materiais) para serem ‘decodificados’ pelos expectadores. Recentemente, entretanto, uma nova abordagem no pensamento do design gráfico (graphic design thinking) começou a questionar a abordagem básica da linguística e da gramática na teoria das comunicações e semiótica, posicionando a comunicação visual como um argumento de persuasão […] Nesse contexto, designers não poderão mais ser vistos como indivíduos que decoram as mensagens, mas como comunicadores que descobrem argumentos convincentes significando imagens e palavras sintetizadas de novas maneiras.” (BUCHANAN, 1992, p. 12)

Gerentes de uma grande cadeia de varejo ficaram intrigados com a dificuldade que seus clientes tinham de andar por suas lojas e encontrar uma mercadoria. Designers gráficos tradicionais produziram grandes sinais, mas sem nenhuma aparente melhora na navegação dos clientes – quanto maiores os sinais, mais as pessoas as pessoas os ignoravam. Finalmente, um consultor de design sugeriu que o problema deveria ser estudado a partir da perspectiva do fluxo da experiência do cliente. Depois de um período observando os compradores andando pelas lojas, o consultor concluiu que as pessoas frequentemente andavam por diferentes sessões da loja olhando o que era mais parecia familiar e representativo para o que buscavam. Isso levou a uma mudança na estratégia de exibição, colocando esses produtos mais representativos e familiares em uma posição de destaque. Mesmo esse sendo um exemplo menor, ilustra bem duas reposições do design: primeira, de sinais para ação, com um insight que as pessoas procuravam por produtos familiares para guiar seus movimentos; segundo, da ação para os sinais, com um redesign na estratégia de posição e exibição dos produtos, os colocando como sinais ou dicas para a organização da loja.” (BUCHANAN, 1992, p. 12)

Existem tantos exemplos de reposicionamentos conceituais no design que é supreendente que ninguém tenha reconhecido o padrão sistemático de invenção que se esconde por trás do pensamento do design (design thinking) no século XX. O padrão é encontrado não em categorias (design gráfico, design de produtos, design de serviços, arquitetura e etc.), mas em um rico, diverso e mutante conjunto de canais complementares como os identificados por sinais, coisas, ações e pensamentos.” (BUCHANAN, 1992, p. 12)

A habilidade dos designers descobrirem novas relações entre sinais, coisas, ações e pensamentos é um indício de que o design não é meramente uma especialização técnica, mas uma nova arte liberal.” (BUCHANAN, 1992, p. 14)

Um matemático, designer e ex-professor da Hochschule für Gestaltung (HfG) Ulm, Horst Rittel buscou uma alternativa para o modelo linear, passo-a-passo, do design explorado por muitos designers e teoristas do design. Contudo há diversas variações do modelo linear, seus proponentes defendem que o processo de design é dividido em duas fases distintas: definição do problema e solução do problema. A definição do problema é uma sequência analítica na qual o designer determina todos os elementos do problema e específica todos os requisitos a ser considerados para o sucesso da solução do design. A solução do problema é uma sequência analítica na qual os vários requisitos são combinados e balanceados um contra o outro, produzindo um plano final para ser levado para produção em escala.” (BUCHANAN, 1992, p. 15)

Contudo, alguns críticos pontuam dois pontos fracos [na proposta do sistema linear de design]: um, a atual sequência do pensamento do design (design thinking) e tomada de decisão não é um simples processo linear; e dois, os problemas endereçados aos designers não são propriamente adaptados a uma análise e síntese linear já proposta.” (BUCHANAN, 1992, p. 15)

Rittel argumenta que a maioria dos problemas endereçados aos designers são problemas ruins (wicked problems) […] uma ‘classe de problemas sociais mal-formulados, onde a informação é confusa, onde existem muitos clientes e a tomada de decisão possui conflitos de valores, e onde as ramificações em todo o sistema são completamente confusas’.” (BUCHANAN, 1992, p. 15)

O modelo linear do pensamento do design (design thinking) é baseado em problemas determinados que possuem condições de definições. A tarefa do designer é identificar essas condições precisamente e então calcular a solução. Em contraste, os problemas ruins (wicked problems) sugere que existe uma indeterminação fundamental, porém o mais trivial problema de design já teve sua ruindade resolvida para produzir um problema determinado ou analítico.” (BUCHANAN, 1992, p. 15)

Indeterminação implica que não existe uma condição definitiva ou limite para o problema de design (algo diferente de não ser determinado). Isso fica evidente nas dez propriedades dos problemas ruins (wicked problems) que Rittel incialmente identificou em 1972.” (BUCHANAN, 1992, p. 16)

(1) Problemas ruins não tem uma formulação definitiva, mas cada formulação do problema ruim corresponde a formulação de uma solução; (2) Problemas ruins não tem regras de parada; (3) Soluções de problemas ruins não podem ser verdadeiras ou falsas, apenas boas (adequadas) ou ruins (não adequadas); (4) Não existe uma lista limitada de operações admissíveis para resolver problemas ruins; (5) Para cada problema ruim, sempre existe mais de uma possível solução, sendo que essa solução vai depender do Weltanschauung (visão de mundo) do designer; (6) Todo problema ruim é um sintoma de outro de nível mais alto; (7) Nenhuma formulação e solução para um problema ruim tem um teste definitivo; (8) Solucionar um problema ruim é uma operação única sem espaço para tentativas ou erros; (9) Cada problema ruim é único; (10) O solucionador do problema ruim não tem direto de estar errado – eles são totalmente responsáveis pelas suas ações.” (BUCHANAN, 1992, p. 16)

Mas em todos os estudos, as atividades do pensamento do design (design thinking) são facilmente esquecidas ou reduzidas ao tipo de produto que finalmente é produzido. O problema para os designers é conceber e planejar o que ainda não existe, e isso ocorre no contexto de indeterminação dos problemas ruins (wicked problems), antes do resultado final ser conhecido.” (BUCHANAN, 1992, p. 18)

A maioria das pessoas continua a pensar na tecnologia em termos de produto e não em sua forma como uma disciplina de pensamento sistemático.” (BUCHANAN, 1992, p. 19)

O plano (de design) é um argumento que reflete as deliberações dos designers e o esforço deles para integrar conhecimento de novas maneiras, adequado para circunstâncias e necessidades específicas.” (BUCHANAN, 1992, p. 19)

Argumentação no pensamento do design (design thinking) caminha para a interação e interconexão entre sinais, coisas, ações e pensamentos. Todo rascunho, blueprint, fluxo, gráfico, ilustração, modelo tridimensional, ou outras propostas de produto feitas pelo designer é um exemplo dessa argumentação.” (BUCHANAN, 1992, p. 20)

Esse argumento é uma síntese de três linhas de raciocínio: as ideias dos designers e fabricantes sobre seus produtos; a operação lógica interna desses produtos; e o desejo e a habilidade dos seres humanos em usar os produtos nas suas vidas diárias de forma a refletir seus valores pessoais e sociais. Designs efetivos dependem da habilidade dos designers de integrar todas essas três linhas de raciocínio. Mas não como fatores isolados que podem ser somados como uma soma matemática, ou assuntos isolados que podem ser estudados separadamente e unidos depois no desenvolvimento do produto.” (BUCHANAN, 1992, p. 20)

Indivíduos treinados de maneira formal nas artes e ciências podem continuar sendo desafiados pela arte do design. Mas os dominantes dessa nova arte liberal são homens e mulheres de prática, e essa disciplina do pensamento que eles aplicam está gradualmente se tornando mais acessível para as pessoas em suas rotinas. Uma disciplina comum do pensamento do design (design thinking) – mais que uma construção particular de produtos por uma disciplina atual – é mudar nossa cultura, não apenas em suas manifestações exteriores, mas também no seu caráter interno.” (BUCHANAN, 1992, p. 21)

Referências

O que é design thinking. Disponível em: <https://faberhaus.com.br/design-thinking/>. Acesso no dia da postagem.

BUCHANAN, Richard. Wicked Problems in Design Thinking. 1992. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/1511637>. Acesso em 27 de abril. de 2016.

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3 thoughts on “Fundamentos do design thinking: O 1º artigo sobre o tema”

  1. Oi Heller, muito legal o artigo! Encontrei porque estava lendo o artigo original em inglês e fiquei em dúvida em relação a tradução de “placements” (págs. 11 e 12). A tradução seria “canais complementares”?

    1. Claudio Brandão

      Oi João, eu cheguei aqui pelo mesmo motivo e acho que uma boa tradução para “placement” seria “posicionamento”.

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