Economia colaborativa é um movimento baseado nos conceitos de tem para todo mundo e vivemos em rede, assim podemos nos apoiar mutuamente.
Economia colaborativa: Contexto
O acumulo de riqueza garante felicidade? Mansões, carros de luxo e roupas caras mantém as pessoas em estado de alegria?
Questões como estas permeiam uma busca milenar por esse sentimento de plenitude que a felicidade proporciona. Antes, nosso objetivo era eliminar a dor, hoje a busca está relacionada a vivenciar o prazer.
Essa onda, em parte estudada pela psicologia positivista, vem contribuindo ainda mais para questões de como e por que somos felizes. O objetivo dessa busca é poder reproduzir cada vez mais ações que nos proporcionem felicidade e eliminar atividades causadoras de dor.
Contudo, no cerne dessa questão ainda nos pegamos em conflitos com os desejos impostos pelo capitalismo, que cria um discurso bem convincente sobre como um artigo de luxo (mais caro) traz mais felicidade que sua versão mais barata, mesmo que ambos supram a necessidade básica da mesma maneira.
Podemos observar isso no exemplo de Thom Hartmann, autor de Last hours of ancient sunlight, para o documentário I am:
“Estas noções de base da nossa relação com as coisas vêm de uma verdade e uma mentira na nossa cultura.
A verdade é que se você está nu e com frio à noite ao relento, sozinho na floresta e está chovendo, você está infeliz. Certo? Todos concordamos com isso. E se alguém abrir a porta, convidá-lo para entrar e te colocar perto de uma lareira, lhe der roupas, coberta, um lugar quente para dormir e um prato de sopa, de repente você passa da infelicidade à felicidade com muito pouco, mas com coisas que fazem a diferença, simples assim. Então essa é a verdade. A mentira é que se estas coisas vão fazê-lo feliz, então ter mais o fará mais feliz. Cem vezes mais o fará cem vezes mais feliz. Mil vezes mais o fará mil vezes mais feliz. E Bill Gates vive em felicidade perpétua.”
O argumento demonstra que acumular bilhões de reais não te fará bilhões de vezes mais feliz, isso é uma ilusão criada pela economia, principalmente para manter o ritmo de venda dos produtos produzidos e garantir o lucro das empresas.
Um dos efeitos mais negativos que isso causa à felicidade é o fato dessa abordagem levar as pessoas a escolherem atividades a seu contragosto, simplesmente para ganhar mais e poder acumular dinheiro e objetos, que serão protegidos de diversas formas diante do medo de perdê-las.
Contudo, sabemos que a matéria é finita. Aliás, desde o big bang a quantidade de matéria atômica se manteve a mesma, muita coisa foi transformada, mas não criada.
Com isso fica claro o motivo pelo qual, para um acumular excessivamente, outros tem que padecer com quase nada.
Essa dualidade foi denunciada também por Charles Eisenstein em artigo para a Ressurgence:
“Um tipo de excesso obsceno acompanha cada dimensão da escassez no nosso planeta: fome e obesidade; seca e enchentes; racionamento de energia e desperdício; solidão e hipernetworking virtual; dívidas enormes e excesso de reservas bancárias; casas cada vez maiores e espaços públicos cada vez menores.”
Porém, se precisamos de pouco para sermos felizes, porque almejamos tanto o acumulo excessivo de recursos em nossas vidas?
A resposta disso está no medo. Temos medo de não estocar essas coisas e depois elas simplesmente não estarem mais disponíveis para nós.
E este pensamento está no coração do atual sistema econômico, que basicamente prega:
- Não tem para todo mundo, então estoque o máximo que conseguir.
- Vivemos em um mundo egoísta, é cada um por si.
Portanto a economia cria a escassez para ampliar ou gerar valor econômico e assim crescer. O crescimento, aliás, também está relacionado simplesmente ao ato de vender mais, o que custa mais energia, mais matéria, mais recursos.
Porém, será que não existe uma maneira de prosperar sem crescer ou acumular excessivamente?
Como reposta a esta pergunta nasce o conceito da economia colaborativa ou sharing economy.
A Economia Colaborativa
Desafiando o atual sistema econômico, essa vertente propõe duas premissas diretamente opostas à filosofia atual:
- Tem para todo mundo, então deixe fluir.
- Vivemos em rede, onde todos são por todos.
Está no coração da economia colaborativa que podemos prosperar em rede, nos sustentar pela colaboração e ainda evoluir exponencialmente por nos conectarmos ao infinito campo das possibilidades da rede distribuída.
Um dos pontos focais da economia atual é a cadeia de comando e controle, pois assim é possível manter um sistema excludente. Isso abarca desde a estrutura do comércio, até a estrutura hierárquica dentro das empresas.
Neste cenário somos o que fazemos, ou seja, somos nossa profissão, nossa atividade única e restritiva.
A economia colaborativa traz outra forma de estrutura. Nela somos agentes transformadores, livremente conectados e colaborativamente ativos. Isso pode ser aplicado desde a estrutura do comércio, até a estrutura interna das empresas.
Para exemplificar, podemos partir dos diagramas de Paul Baran, porém demonstrando a hierarquia de comando:
Na rede distribuída, característica da economia colaborativa, todos estamos conectados e ninguém está acima dos outros. Assim, vemos morrer a concorrência, pois para um ganhar, o outro não precisa perder.
Outra vantagem na rede distribuída é o abandono da visão das pessoas como recursos ou como profissões restritivas. Neste caso, podemos transitar em meio as diversas ciências para realizar o que desejamos.
Este aspecto reforça a necessidade das pessoas escolherem fazer algo que gostem, pois, sem a cadeia de comando, é a motivação intrínseca a responsável pela decisão do que fazer.
Segundo Elionor Ostrom, para comportamento como estes nascerem e florescerem é importante gerenciarmos ambientes contendo:
- Autonomia e liberdade.
- Competência e aprendizado.
- Participação e generosidade.
A partir disso as pessoas naturalmente avançam, pois já existe no ser humano a vontade do fazer, elas só precisam de ferramentas para aplicar seu excedente cognitivo em prol de um objetivo que acreditem.
Dessa maneira, dentro do conceito da economia colaborativa as empresas deixam de ser produtoras de coisas para venda e se tornam agentes sociais, responsáveis por criar serviços que conectem as pessoas e lhes conceda autonomia para realizarem seus potenciais ou vivenciarem as experiências desejadas.
Com exemplo, podemos observar o trabalho do Airbnb, que atualmente funciona como conector entre pessoas. Muito além de ser uma rede de hotéis, eles vem prestando um serviço que potencializa os interesses das pessoas e facilita o intercâmbio entre eles.
Outras empresas que vem nesta mesma estrutura são Uber, Skillshare, NosVoce, Fablab, Zazcar, Elo7, Tanlup e diversas outras.
É importante ressaltar que nem todas as empresas vivem o conceito de rede distribuída em sua estrutura e no comércio. Algumas delas tem uma estrutura interna baseada nas noções da economia colaborativa, como, por exemplo, a Valve Software.
Outras repensaram a forma como se relacionar no comércio, mas internamente mantém estruturas formais de hierarquia, como, por exemplo, o Catarse.
Para mais detalhes, veja a seguir a apresentação do evento e as referências no final dessa postagem.
Citações do curso sobre Economia Colaborativa
A diferença entre o que você experimentou do que você imaginou alimenta a sabedoria, o algoritmo fino que te faz intuir as coisas.
A atração é uma dica da intuição para você vivenciar as experiências que precisa para evoluir.
A lógica do negócio nega o ócio.
A inovação vem do ambiente divergente.
A matéria é finita, mas a transformação é infinita.
Você sempre está contido em algo maior que você.
Interagir em rede significa interagir entre os nós e não nos nós.
Precisamos nos reconectar com o campo das possibilidades, recuperando a capacidade de transformação.
Una a percepção subjetiva e a percepção objetiva, evite separá-las.
O trânsito é o maior exemplo da tragédia dos comuns, todos tentando chegar mais rápido, acabam chegando mais devagar.
A eficácia é a medida da verdade.
Eficiência é fazer a coisa cada vez melhor; eficácia é fazer a melhor coisa. Se você tiver baixa eficiência e baixa eficácia, morrerá lentamente. Se tiver alta eficiência e pouca eficácia, morrerá rapidamente. Se tiver alta eficácia e pouca eficiência, sobrevive. Se tiver alta eficácia e alta eficiência, prosperará.
Um forte abraço,
Referências
Charles Eisenstein. Disponível em: <http://charleseisenstein.net/>. Acesso no dia da postagem.
Peter Diamandis. Disponível em: <http://www.ted.com/talks/peter_diamandis_abundance_is_our_future?language=pt-br>. Acesso no dia da postagem.
Cinese. Disponível em: <http://blog.cinese.me/post/100719702347/um-mundo-de-abundancia>. Acesso no dia da postagem.
I Am Doc. Disponível em: <http://www.iamthedoc.com/>. Acesso no dia da postagem.
Holocracy. Disponível em: <http://holacracy.org/>. Acesso no dia da postagem.
Oswaldo Oliveira. Disponível em: <https://www.facebook.com/oswaldooliveirao2>. Acesso no dia da postagem.
Adicionais: Elionor Ostrom; Clay Shirky; Jeremy Bentham; Amartya Sen;
Heller, obrigado por compartilhar as tuas experiências com o curso sobre economia colaborativa. Esse é um tema que me interessa muito e teu texto me ajudou a organizar algumas ideias a respeito. 🙂