A criatividade é nossa capacidade de criar coisas novas para solucionar novos e velhos problemas ou tornar a vida ainda melhor.
Também é essa capacidade que nos permite repensar coisas existentes de forma a encontrar soluções melhores, mais práticas, mais eficientes e eficazes.
Contudo, é comum acreditarmos que a criatividade é um dom ou talento inato de algumas pessoas que, simplesmente, nascem com esse toque mágico e por isso conseguem ir além do óbvio.
Mas isso é um engano, a habilidade de criar deve e pode ser aprendida, praticada e desenvolvida por qualquer pessoa e vai se tornar cada vez melhor com a prática constante.
Como ser mais criativo
O ponto inicial que compreendermos é que ser criativo é criar coisas novas, portanto a primeira ação para ser criativo é olhar para as coisas existentes e dar a elas novos significados.
Isso ganha ainda mais força quando unimos duas coisas distantes em uma nova configuração, que traz consigo uma nova funcionalidade.
Podemos ver isso em grandes invenções como, por exemplo, a prensa de Gutenberg: uma união nada obvia entre os princípios da prensa de vinhos e do cunho de imprimir moedas que mudou nossa história para sempre.
Nesse sentido, a frase dita por Albert Szent-Györgyi, prêmio Nobel de medicina, talvez sumarize bem esse conceito, afinal “Descobrir consiste em olhar para o que todo mundo está vendo e pensar uma coisa diferente.” (SZENT-GYÖRGYI apud EOCH, 1995, p. 19).
Contudo, conseguir olhar com novos olhos para as coisas existentes exige superar obstáculos que colocamos a nós mesmos, como o medo ou a vergonha, e nos arriscarmos nessa brincadeira séria de ressignificar o mundo ao nosso redor.
Para Roger Von Eoch (1995), isso acontece ainda mais facilmente quando ocorre um “toc na nossa cuca”, ou seja, um evento externo ou autoprovocado que nos faz olhar para as coisas de uma nova maneira.
Uma demissão, por exemplo, pode nos dar esse “toc” ou esse susto que vai nos obrigar a enxergar ou procurar novas respostas ou novos caminhos dentro da nossa realidade.
Essa é uma forma de impulsionar nossa criatividade para encontrar soluções inusitadas em meio ao óbvio.
Claro que esses “tocs” também podem ser positivos como, por exemplo, quando viajamos para outro país e a nova cultura nos faz enxergar novas possibilidades, novos objetos, novos costumes, novos produtos e até novas maneiras de viver.
Os 10 bloqueios para criatividade
Além dos “tocs”, os bloqueios para abrimos essa caixa da criatividade também costumam vir de nós mesmos, do medo ou da vergonha que vamos nos impondo conforme crescemos.
À uma criança é permitida as perguntas bobas, óbvias e até mesmo os desenhos com pintura fora dos limites das linhas das formas.
Conforme crescemos, no entanto, as coisas se tornam mais práticas e padronizadas.
A pintura tem que estar dentro das linhas e as cores já devem seguir a lógica da realidade: “Grama azul não pode, a grama é verde!”.
Assim vamos minando nossa capacidade de questionar e reinventar as coisas.
E mesmo que essa prática de pintar grama de azul não seja cotidiana, o fato é que ao criarmos uma cultura cheia de repreensão e regras não teremos como esperar explosões de criatividade depois.
Assim, superar as limitações impostas pela cultura do adultismo é parte do esforço para sermos mais criativos.
Nesse sentido, Roger Von Eoch (1995) nos traz 10 bloqueios para criatividade que segundo ele precisamos superar para libertarmos nossa mente.
- Só existe uma resposta certa.
- A lógica deve ser a base de tudo que criarmos.
- Devemos seguir as regras o tempo todo.
- Devemos ser práticos constantemente.
- Precisamos ser precisos.
- Temos que acertar sempre.
- Brincar é falta de seriedade.
- Trabalhe só com o que sabe.
- Não seja bobo e não se arrisque para não passar vergonha.
- Eu não sou criativo.
A lista revisitada com 10 itens para reafirmarmos nossa criatividade
- Existem muitas respostas possíveis e podemos sempre buscar uma nova alternativa.
- Podemos criar coisas ilógicas e depois refinarmos ou ajustarmos elas.
- Quebrar as regras pode trazer soluções mais eficientes e isso vale a pena.
- Ter mais repertório trará mais coisas diferentes para se conectarem e isso amplia a criatividade.
- Ambiguidades podem ser maneiras muito divertidas do cérebro encontrar novas combinações.
- Errar é único caminho possível quando se tenta coisas novas. É errar até acertar.
- Brincar é um mecanismo natural da nossa espécie para aprendizado, desenvolvimento e novas combinações.
- Experimentar novas coisas e tentar combiná-las é uma das atividades centrais da criatividade.
- A vida adulta traz cada vez mais maneiras de definir algo como bobo, com isso vai minando qualquer ação que não esteja no conformismo, o que encerra a criatividade.
- Todo ser humano é criativo, nós nos privamos desse acesso por diversas questões, mas a criatividade não é um dom reservado a poucos, mas a todos.
A importância das conexões para a criatividade
Além da ousadia e coragem para continuarmos a nos arriscar e superarmos os 10 bloqueios trazidos por Roger Von Eoch (1995), podemos conectar outro aspecto importante para fomentar a criatividade vindo da obra de Steven Johnson (2011).
Johnson, que é um renomado escritor nas áreas do design e negócios, reforça em sua obra “De onde vem as boas ideias” a importância da conexão para que a criatividade floresça e se torne boas ideias.
Para o pesquisador, a capacidade criativa de cada pessoa aumenta conforme maior for sua rede de conexões e amizades, principalmente quando essas amizades forem de ambientes completamente diferentes do seu.
Em sua pesquisa o autor descobriu que “[…] indivíduos mais criativos possuíam invariavelmente redes sociais mais amplas que se estendiam além de sua empresa e envolviam pessoas especializadas em diversas áreas” (JOHNSON, 2011, p. 138).
Assim, outro importante aspecto para sermos mais criativos é expandirmos nossos temas de interesse e criar conexões com pessoas fora da nossa especialidade e conhecimento ou mesmo estudar materiais de outras fontes.
Isso incluiria, por exemplo, lermos um pouco de física, administração, história, medicina, fazer amizade com alguém do circo, da advocacia, da música popular, da música clássica, da dança contemporânea, da arquitetura etc.
O ponto é que quanto maior for a diversidade das nossas conexões e conhecimentos, mais facilmente nossa mente conseguirá ser criativa.
Assim, para ser mais criativo, lembre-se:
- Arrisque-se e pratique sempre, pois o exercício constante é o que vai tornar sua mente cada vez mais criativa.
- Conecte assuntos diferentes e coisas distintas em uma nova configuração com um novo propósito.
- Expanda seus conhecimentos estudando temas distantes da sua realidade.
- Faça amizades plurais e converse com pessoas fora do seu contexto de vida, de conhecimento e de trabalho.
- Supere os 10 bloqueios para a criatividade apresentados por Roger Von Eoch.
Referências
EOCH, Roger Von. Um Toc na Cuca: Técnicas para quem quer ter mais criatividade na vida. 15. ed. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1995.
JOHNSON, Steven. De Onde Vêm as Boas Ideias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2011.