Comunicação Não-violenta de Marshall Rosenberg ensina a técnica de comunicação usada tanto para evitar e resolver conflitos como para construir relações mais saudáveis e positivas.
Baseado no princípio de que toda violência é resultado de uma necessidade não atendida, o psicólogo americano Marshall Rosenberg demonstra como podemos criar diálogos estruturados que identifiquem melhor nossas necessidades não atendidas e os sentimentos que discorrem disso.
A partir dessa identificação mais clara, podemos então agir para sanar nossas necessidades, chegando a um denominador comum mais empático, mesmo que esse denominador seja uma discordância pacífica.
De forma mais ampla, a teoria da CNV (Comunicação Não-Violenta) trabalha em três grandes dimensões: a CNV falar, ou seja, como expressamos nossas necessidades e sentimentos; a CNV ouvir, ou seja, a maneira como ouvimos o outro e identificamos suas necessidades e sentimentos; e a CNV autodialogar, ou seja, a forma como estruturamos e mantemos nossos diálogos internos.
Por que é interessante ler Comunicação Não-violenta
O livro Comunicação Não-violenta apresenta uma grande riqueza para o desenvolvimento do autoconhecimento, tornando mais fácil a identificação das nossas necessidades e sentimentos, bem como a forma como dialogamos sobre isso com a gente mesmo.
A partir disso ficamos mais habilidosos nas maneiras de formatar e apresentar essas informações de forma tranquila para as pessoas que nos rodeiam.
Esse autoconhecimento serve de apoio até mesmo para sanar nossas necessidades de forma mais certeira e ainda fazer acordos mais benéficos para todos os envolvidos, sem precisar usar violência como uma ferramenta.
Outro aspecto importante do livro é aprender a ouvir e falar com outras pessoas observando suas próprias necessidades e sentimentos. Dessa forma ajudamos o outro a se expressar, facilitamos nossa compreensão de tudo que está envolvido no contexto e ainda tornamos nossos relacionamentos mais saudáveis e positivos.
Os principais aprendizados que tive ao ler o livro
Desde que li Comunicação Não-violenta já venho aplicando a técnica sempre que possível, apesar disso assumo que é um exercício difícil por fugir da forma como aprendemos a nos relacionar nas nossas rotinas, contudo ainda me parece ser muito mais saudável do que a alternativa mais conhecida.
O livro e sua técnica realmente ajudaram a tornar mais claro minhas necessidades e sentimentos, inclusive ampliando a consciência da minha responsabilidade sobre meus atos a partir dessa compreensão.
Outro importante aprendizado foi deixar de ver qualquer pessoa que estivesse indo contra minhas necessidades como um monstro merecedor de um grande castigo.
E isso vai desde o motorista “lerdo” no trânsito até o colega de trabalho ou um possível fornecedor atrasado.
Os principais questionamentos que tive sobre Comunicação Não-violenta
Apesar de recheado de exemplos que comprovam a eficácia da técnica nas mais diferentes situações, ainda tenho dúvidas quanto ao uso dela em qualquer cenário.
Outro ponto importante é que a Comunicação Não-Violenta é uma excelente ferramenta quando todas as partes têm consciência de seu uso. Quando essa consciência é só de uma das partes, fico em dúvida quanto ela pode ser mal interpretada pelo outro, principalmente na nossa cultura sentimentalmente mais intensa.
Mesmo assim, recomendo fortemente a leitura e a prática da técnica tanto para o autodesenvolvimento quanto para melhorar as relações com outras pessoas.
Citações selecionadas de Comunicação Não-violenta de Marshall Rosenberg
Parte 1
“O processo da CNV: As ações concretas que estamos observando e afetam nosso bem-estar; Como nos sentimos em relação ao que estamos observando; as necessidades, valores, desejos, etc. que estão gerando nossos sentimentos; as ações concretas que pedimos para enriquecer nossa vida” (ROSENBERG, 2006, p. 26)
“Classificar e julgar as pessoas estimula a violência” (ROSENBERG, 2006, p. 40)
“Comparações são uma forma de julgamento” (ROSENBERG, 2006, p. 41)
“Ficamos perigosos quando não temos consciência de nossa responsabilidade por nossos comportamentos, pensamentos e sentimentos” (ROSENBERG, 2006, p. 45)
“A maioria de nós cresceu usando uma linguagem que, em vez de nos encorajar a perceber o que estamos sentindo e do que precisamos, nos estimula a rotular, comparar, exigir e proferir julgamentos” (ROSENBERG, 2006, p. 47)
“Uma forma de comunicação alienante da vida é o uso de julgamentos moralizadores que implicam que aqueles que não agem em consonância com nossos valores estão errados ou são maus” (ROSENBERG, 2006, p. 48)
“O primeiro componente da cnv acarreta necessariamente que se separe observação de avaliação. Quando combinamos observações com avaliações, os outros tendem a receber isso como crítica e resistir ao que dizemos” (ROSENBERG, 2006, p. 57)
“Expressar nossa vulnerabilidade pode ajudar a resolver conflitos” (ROSENBERG, 2006, p. 67)
“Quatro opções de como receber mensagens negativas: 1. Culpar a nós mesmos. 2. Culpar os outros. 3. Escutar nossos próprios sentimentos e necessidades. 4. Escutar os sentimentos e necessidades dos outros” (ROSENBERG, 2006, p. 80)
“Estamos acostumados a pensar que há algo de errado com as outras pessoas sempre que nossas necessidades não são satisfeitas” (ROSENBERG, 2006, p. 84)
“Como frequentemente acontece, os dois grupos tinham mais habilidade para analisar o erro que percebiam nos outros do que para expressar claramente suas necessidades” (ROSENBERG, 2006, p. 85)
“Primeiro estágio [da escravidão emocional para a liberação emocional] – escravidão emocional: vemos a nós mesmos como responsáveis pelos sentimentos dos outros” (ROSENBERG, 2006, p. 91)
“Segundo estágio – “ranzinza”: sentimentos raiva; não queremos mais ser responsáveis pelos sentimentos dos outros” (ROSENBERG, 2006, p. 92)
“Terceiro estágio – libertação emocional: assumimos a responsabilidade por nossas intenções e ações” (ROSENBERG, 2006, p. 94)
“O que os outros dizem e fazem pode ser o estímulo, mas nunca a causa de nossos sentimentos” (ROSENBERG, 2006, p. 95)
“Julgamentos, críticas, diagnósticos e interpretações dos outros são todas expressões alienadas de nossas próprias necessidades e valores” (ROSENBERG, 2006, p. 95)
“Use uma linguagem positiva ao fazer pedidos” (ROSENBERG, 2006, p. 104)
“Além de utilizarmos uma linguagem positiva, devemos evitar frases abstratas ou ambíguas e formular nossas solicitações na forma de ações concretas que os outros possam realizar” (ROSENBERG, 2006, p. 106)
“Formular pedidos em uma linguagem clara, positiva e de ações concretas revela o que realmente queremos” (ROSENBERG, 2006, p. 107)
“Uma linguagem vaga favorece a confusão interna” (ROSENBERG, 2006, p. 108)
“Pode não ficar claro para o ouvinte o que queremos que ele faça quando simplesmente expressamos nossos sentimentos” (ROSENBERG, 2006, p. 110)
“Solicitações não acompanhadas dos sentimentos e necessidades do solicitante podem soar como exigências” (ROSENBERG, 2006, p. 112)
“Quanto mais claros formos a respeito do que queremos obter, mais provável será que o consigamos” (ROSENBERG, 2006, p. 112)
“Depois de nos expressarmos de forma vulnerável, é comum que queiramos saber: a) o que o ouvinte está sentindo; b) o que o ouvinte está pensando; ou c) se o ouvinte está disposto a tomar determinada atitude” (ROSENBERG, 2006, p. 115)
“Num grupo, perde-se muito tempo quando as pessoas não estão certas de que tipo de reposta desejam em retorno as suas palavras” (ROSENBERG, 2006, p. 118)
“Pedidos são recebidos como exigências quando o outros acreditam que serão culpados ou punidos se não os atenderem” (ROSENBERG, 2006, p. 119)
“Quando a outra pessoa ouve de nós uma exigência, ela vê duas opções: submeter-se ou rebelar-se” (ROSENBERG, 2006, p. 119)
“É uma exigência se quem fez a solicitação critica ou julga a outra pessoa em seguida” (ROSENBERG, 2006, p. 119)
“Também é uma exigência se quem fez a solicitação tenta fazer a outra pessoa sentir-se culpada” (ROSENBERG, 2006, p. 120)
“Podemos ajudar os outros a confiar em que estamos fazendo um pedido, e não uma exigência, se indicarmos nosso desejo de que eles atendam somente se puderem fazê-lo de livre vontade” (ROSENBERG, 2006, p. 127)
Parte 2
“As duas partes da CNV: Expressar-se com honestidade. Receber com empatia.” (ROSENBERG, 2006, p. 133)
“Ao nos relacionarmos com os outros, a empatia ocorre somente quando conseguimos nos livrar de todas as ideias preconcebidas e julgamentos” (ROSENBERG, 2006, p. 134)
“Pergunte antes de oferecer conselhos ou estímulos” (ROSENBERG, 2006, p. 134)
“[…] comportamentos comuns que nos impedem de estar presentes o bastante para nos conectarmos aos outros com empatia […] aconselhar; competir pelo sofrimento, educar, consolar, contar uma história, encerrar o assunto; solidarizar-se; interrogar; explicar-se e corrigir” (ROSENBERG, 2006, p. 135)
“Preste atenção às necessidades dos outros, e não ao que eles estão pensando de você” (ROSENBERG, 2006, p. 139)
“Quando verbalizamos o que ouvimos do outro, o tom de voz que utilizamos é muito importante. Quando as pessoas nos ouvem repetir o que disseram, é provável que estejam sensíveis ao menor indício de crítica ou sarcasmo. Da mesma forma, elas são negativamente afetadas por um tom declarativo, que implique que estamos lhes dizendo o que está acontecendo dentro delas.” (ROSENBERG, 2006, p. 144)
“Por trás de mensagens intimidadoras, estão simplesmente pessoas pedindo para satisfazermos suas necessidades” (ROSENBERG, 2006, p. 144)
“Sabemos que a pessoa que fala recebeu empatia quando: (a) há um alivio de tensão ou (b) o fluxo de suas palavras chega ao fim” (ROSENBERG, 2006, p.148)
“A empatia é a compreensão respeitosa do que os outros estão vivenciando. Em vez de oferecermos empatia, muitas vezes sentimos uma forte urgência de dar conselhos ou encorajamento e de explicar nossa própria posição ou nossos sentimentos.” (ROSENBERG, 2006, p. 150)
“Quando percebemos que estamos sendo defensivos ou incapazes de oferecer empatia, precisamos (a) parar, respirar, sentir empatia por nós mesmos, ou (b) gritar de modo não-violento ou (c) dar-nos um tempo.” (ROSENBERG, 2006, p. 150)
“Quando trabalhamos numa instituição estruturada hierarquicamente, há uma tendência a ouvir ordens e julgamentos daqueles que estão cima de nós na hierarquia. ” (ROSENBERG, 2006, p. 161)
“Embora possamos facilmente ter empatia com nossos colegas e com aqueles em posição de menor poder, podemos nos perceber sendo defensivos ou nos justificando, em vez de termos empatia, na presença daqueles que identificamos como nossos superiores.” (ROSENBERG, 2006, p. 162)
“Nós “dizemos muita coisa” ao escutarmos os sentimentos e necessidades das outras pessoas” (ROSENBERG, 2006, p. 164)
“Quando escutamos os sentimentos e necessidades das pessoas, paramos de vê-las como monstros” (ROSENBERG, 2006, p. 168)
Parte 3
“A utilidade mais importante da CNV pode ser no desenvolvimento da autocompaixão” (ROSENBERG, 2006, p. 179)
“Evite dizer ‘Eu deveria’” (ROSENBERG, 2006, p. 182)
“Nós não fomos feitos para sucumbir às ordens do “dever” e do “tenho de”, venham elas de fora ou de dentro de nós mesmos. E, se viermos a ceder e nos submeter a essas ordens, nossas ações se originarão de uma energia destituída da alegria de viver” (ROSENBERG, 2006, p. 182)
“Uma premissa básica da CNV é que ao julgarmos que alguém está errado ou agindo mal, o que estamos realmente dizendo é que essa pessoa não está agindo em harmonia com nossas necessidades. Se por acaso julgamos a nós mesmos, o que estamos dizendo é: ‘Eu mesmo não estou agindo em harmonia com minhas próprias necessidades’” (ROSENBERG, 2006, p. 183)
“Entretanto, acredito sinceramente que uma forma importante de autocompaixão é fazer escolhas motivadas puramente por nosso desejo de melhorar a vida, e não por medo, culpa, vergonha, dever ou obrigação” (ROSENBERG, 2006, p. 188)
“A cada escolha que você fizer, esteja consciente de que necessidade ela atende” (ROSENBERG, 2006, p. 190)
“[Motivações extrínsecas que podem ser negativas:] 1. Por dinheiro; 2. Por aprovação; 3. Para evitar uma punição; 4. Para evitar a vergonha; 5. Para evitar a culpa; e 6. Por dever” (ROSENBERG, 2006, p. 191)
Parte 4
“Quando a culpa é uma tática de manipulação e coerção, é útil confundir estímulo e causa” (ROSENBERG, 2006, p. 199)
“[…] não é o que a outra pessoa faz, mas as imagens e as interpretações em minha própria cabeça que provocam minha raiva” (ROSENBERG, 2006, p. 203)
“A violência vem da crença de que as outras pessoas nos causam sofrimento e, portanto, merecem ser punidas” (ROSENBERG, 2006, p. 205)
“Temos quatro opções quando escutamos uma mensagem difícil: 1. Culpar a nós mesmos; 2. Culpar os outros; 3. Perceber nossos próprios sentimentos e necessidades; 4. Perceber os sentimentos e necessidades dos outros.” (ROSENBERG, 2006, p. 206)
“O julgamento dos outros contribuem para criar profecias que acarretam a própria concretização” (ROSENBERG, 2006, p. 206)
“As pessoas não escutam nossa dor quando acham que têm culpa de algo” (ROSENBERG, 2006, p. 212)
“[…] nossa raiva vem de julgamentos, rótulos e acusações a respeito do que as pessoas ‘deveriam’ fazer e do que elas ‘merecem’” (ROSENBERG, 2006, p. 214)
“Pratique traduzir cada julgamento numa necessidade não-atendida” (ROSENBERG, 2006, p. 214)
“A intenção por trás do uso protetor da força é evitar danos ou injustiças. A intenção por trás do uso punitivo da força é fazer que as pessoas sofram por seus atos percebidos como inadequados” (ROSENBERG, 2006, p. 224)
“O medo da punição diminui a autoestima e a boa vontade” (ROSENBERG, 2006, p. 227)
“Pergunta 1: O que eu quero que essa pessoa faça? Pergunta 2: Que motivos desejo que essa pessoa tenha para fazê-lo?” (ROSENBERG, 2006, p. 229)
“Concentre-se no que deseja, não no que deu errado” (ROSENBERG, 2006, p. 239)
“Desarme o estresse estabelecendo empatia com os outros” (ROSENBERG, 2006, p. 241)
“Expresse apreciação como forma de celebrar, e não de manipular” (ROSENBERG, 2006, p. 254)
“Agradecer na CNV: Isso é o que você fez; isso é o que sinto; essa é minha necessidade que foi atendida” (ROSENBERG, 2006, p. 255)
“Receba apreciação sem se sentir superior e sem falsa modéstia” (ROSENBERG, 2006, p. 257)
“Tendemos a registrar o que está dando errado, não o que está dando certo” (ROSENBERG, 2006, p. 260)
Referências
ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta: Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.
Heller, parabéns pela compilação desse material de CNV ! Muito bem feito. Sou admirador e estudioso da C.N.V. e sua síntese ficou muito bem organizada, ótima para despertar o interesse em novos “descobridores” da CNV.
Obrigado Sérgio!!
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Oi, Heller, tudo bom? Esse livro teve uma reedição no ano passado e incluiu um capítulo sobre mediação de conflitos. Veja no site http://www.gruposummus.com.br . Abraço!
Excelente conteúdo! Foi um resumo em tópicos de grande relevância para os estudiosos e admiradores da CNV. Parabéns pelo resultado!
abraço
Obrigado Kléber!