Clécio Bachini participa de uma conversa sobre trabalho, carreira e aprendizados da vida para nos inspirar e ajudar na nossa evolução.
Clécio Bachini – Perfil
Nome: Clécio Bachini
Se formou em: Ciência da Computação
É conhecido por ser: O Chato da Acessibilidade. O Chato da Open Web.
Odeia demais: Quando as pessoas fingem que se importam com as pessoas, com a comunidade, mas na verdade estão buscando apenas autopromoção.
Ama muito: Fazer coisas que deixam as pessoas felizes. De bolo a sites.
Fica feliz quando: Quando estou com pessoas felizes. Ou embriagado. Ou estou com pessoas felizes embriagadas. Ou quando estou com plantas. Plantas lícitas.
Tem medo de: Ter medo.
Não tem medo de: Começar do zero a cada dia.
Clécio Bachini – Entrevista
No que você trabalha atualmente?
Clécio Bachini – Sou sócio fundador da Soyuz. Já há 18 anos.
Como você entrou nessa atividade profissional?
Clécio Bachini – Eu fiz eletrônica no fim do século passado. E eu era apaixonado pela Apple.
Dai, quando comecei a trabalhar com suporte a Mac, caiu na minha mão um monte de livros sobre IHC (Interação Humano-Computador) da Apple.
Eu fiquei fascinado com aquilo. E esse foi o começo da minha obsessão por interfaces simples e intuitivas.
O que mais gosta no que faz profissionalmente?
Clécio Bachini – Resolver problemas, simplificar a vida das pessoas. Surpreender com uma visão fora do obvio.
Qual foi o projeto mais interessante em que você trabalhou até hoje? Como foi?
Clécio Bachini – Vou falar sobre dois, ambos de educação: Fizemos o ensino médio do UNOi Educação, um projeto chamado Fi. Cuidados da concepção (UX) ao desenvolvimento.
Eram objetos digitais bem diferentes dos livros tradicionais, eles foram pensados para o adolescente de hoje. Formato de timeline, mobile first.
O resultado foi incrível.
O outro foi a interface do Sistema Acadêmico de um centro universitário no Rio, a Celso Lisboa.
Fizemos um “Google Now” do aluno. O impacto foi imenso, muita coisa podia agora ser resolvida online, com uma linguagem muito simples e direta.
Qual foi a situação mais difícil que você passou na sua carreira até hoje e como você lidou com ela e o que aprendeu de mais importante?
Clécio Bachini – Entramos como parceiros em um negócio. Nossa parte era desenvolver, a parte dos “sócios” era gerar negócios.
Nós entregamos nossa parte. Tudo no ar. Inclusive tutorial filmado, teste com usuário e etc.
Quando eles viram que não tinham experiência para gerar negócios, apagaram o servidor da Amazon e nos processaram por não entregar.
O que aprendemos: nunca confie. Mesmo.
Que conselho daria para quem está começando uma carreira profissional agora?
Clécio Bachini – O que sinto é que as pessoas estão achando que sabem tudo cada vez mais cedo.
Mantenha-se humilde e aprenda sempre.
Que profissional ou profissionais você considera referência na sua área de atuação? Por quê?
Clécio Bachini – Horácio Soares foi o cara que teve coragem de falar sobre acessibilidade digital quando ninguém nem sequer se preocupava em fazer um site direito.
Deu muito a cara para bater. Sempre botou o dedo na ferida. Horácio é foda.
O que te faria contratar alguém para trabalhar com você?
Clécio Bachini – Vontade de pesquisar e aprender sempre. E sangue nos olhos para inventar.
Fui professor e gosto de ensinar. Só que na realidade da empresa, não sobre muito tempo. Então, o que faço é dar os caminhos e falar “corre atrás”.
Quando vou palestrar e vem gente interessada mostrar o que está fazendo, fico com vontade de contratar todo mundo.
Onde você busca informações para aprender mais ou se manter atualizado sobre sua profissão?
Clécio Bachini – Sobre acessibilidade digital: WebAIM, Web Axe e o Paciello Group.
Sobre UX, os encontros do UXPA e IxDA são ótimos lugares para conhecer as pessoas e conversar.
Dentro do que você faz profissionalmente, o que considera sua missão ou o propósito mais importante?
Clécio Bachini – Fazer com que as pessoas esqueçam da interface. Tornar a tecnologia realmente ubíqua.
Tonar os dispositivos cada vez menos importantes no processo da experiência do usuário.
Como você explicaria o seu trabalho para alguém que nunca ouviu sobre isso?
Clécio Bachini – Eita… Eu tento fazer programas que todo mundo consegue usar.
Até mesmo você, quando acidentalmente cair no futebol e ficar com a mão enfaixada. Ou sua vó, que enxerga pouco e tem dificuldade para digitar no celular.
Como você explicaria o conceito de acessibilidade para quem não sabe nada sobre o assunto?
Clécio Bachini – Acessibilidade é o grau máximo da empatia. Talvez o grau máximo da inclusão.
As pessoas tendem a pensar que acessibilidade é criar alternativas, mas na verdade acessibilidade e retirar barreirar para que todos possam trilhar o mesmo caminho.
Existe alguma diferença no conceito de acessibilidade para o mundo físico e o mundo digital? Se sim, quais?
Clécio Bachini – Não existe nenhuma diferença entre as abordagens para acessibilidade física e digital.
Por exemplo, a relação de fontes e contraste de cores aplicadas na acessibilidade digital é exatamente a mesma que deveria ser aplicada no design gráfico.
Existe uma convergência cada vez maior do analógico e do digital e, sendo assim, cada vez mais vai ser difícil diferenciar o que é físico do que é virtual.
E nesse contexto, não devemos mais pensar como guetos ou soluções que funcionam em apenas alguns contextos. Devemos pensar sempre em design universal.
Como a acessibilidade se relaciona ou dialoga com a diversidade?
Clécio Bachini – Acessibilidade está intimamente relacionada ao design universal. E assim, dialoga amplamente com a diversidade.
Acredito que o sonho de todos que projetam produtos e serviços é que o impacto seja sentido pelo maior número de pessoas possível, independente de gênero, orientação sexual ou deficiência.
Se contarmos deficiências temporárias, metade da população em algum momento da vida vai precisar de soluções acessíveis.
Como é possível inserirmos a acessibilidade dentro dos projetos das empresas?
Clécio Bachini – Se a empresa não for sensível a questão da acessibilidade (o que indica que a empresa pode não gostar de ganhar dinheiro, pois está jogando fora cerca de 20% dos consumidores) há sempre a questão legal.
Acessibilidade digital é lei. As empresas tem obrigação legal de cumprir a Lei Brasileira de Inclusão.
Ou seja, hoje já não é mais uma questão de sensibilização, mas uma questão de compliance.
Quais ferramentas, métodos ou processos você indica para quem quer incluir a acessibilidade em seus projetos?
Clécio Bachini – Acessibilidade digital é um processo de UX como outro qualquer.
Para os profissionais de UX, aconselho muitíssimo a abordagem que a Diana Fournier tratou nesse artigo no Medium.
Para testes de sites, eu sempre uso o WAVE.
Quais cursos, livros ou conteúdo você indica para quem quer saber mais sobre o assunto acessibilidade?
Clécio Bachini – O melhor curso que existia era o do Horácio Soares e da Leda, mas não existe mais.
Eu e Edu Agni estamos planejando um curso na Mergo de acessibilidade em uma abordagem de UX para breve.
E é sempre bom consultar o WCAG do W3C, que é o mais amplo guia sobre todas as vertentes da acessibilidade digital.
O que te inspira no seu trabalho?
Clécio Bachini – Inventar coisas e experiências novas.
Na verdade, nossa profissão é só montar um imenso quebra cabeças com peças que já foram inventadas há muito tempo.
Como você imagina que será sua atividade profissional daqui a 10 anos?
Clécio Bachini – Talvez não exista. Talvez vire tudo inteligência artificial. Dai vou estar plantando ou fazendo pão.
O que você ensinaria para uma criança hoje que poderia ajudar na atividade dela no futuro?
Clécio Bachini – Música. E inglês. 🙂
Que serviços ou empresas você admira por oferecer um excelente serviço atualmente? Por quê?
Clécio Bachini – Nossa, sinceramente não tem. 🙂 Pensei muito e não consegui me lembrar. Isso é um mal sinal, será?
Alguma mensagem ou recado final que você gostaria de deixar para os leitores?
Clécio Bachini – Não pense acessibilidade como caridade. E sempre pense em acessibilidade nos processos de UX.
Você vai se surpreender com um aumento espontâneo de conversões.
E para fechar, por onde podemos seguir você?
Clécio Bachini – Pelo Twitter, pelo Facebook, pelo Linkedin ou pelo Instagram.
E aquele mega obrigado ao Clécio por bater esse papo com a gente e compartilhar seus conhecimentos e dicas 😀