O bonito vende, e isso é um fato facilmente observável na nossa sociedade atual, tanto para produtos quanto para pessoas.
Segurando aqui um juízo de valor sobre esse fato, o doutor Atila Iamarino, por exemplo, condensou em um dos seus materiais audiovisuais alguns testes realizados que comprovam a forte tendência do ser humano em se submeter ao bonito.
Em seu vídeo “O segredo do sucesso”, Atila reúne exemplos de estudos e pesquisas que demonstraram que pessoas bonitas tendem a receber mais votos de confiança, mais promoções e até mais dinheiro por causa da sua aparência.
Inclusive, uma pessoa percebida como bonita tende a ser considerada mais honesta, mais inteligente e mais capaz, mesmo sem nenhum fato que comprove isso.
Esse desdobramento impacta na vida pessoal e profissional, com pessoas bonitas tendo vantagem em todo tipo de oportunidade, segundo o próprio Dr. Atila.
Diante disso, claro que as empresas sabem da importância de uma comunicação, de uma estrutura e de produtos considerados bonitos para conseguirem aumentar suas vendas.
E nesse ponto entra o design para construir configurações que sejam mais bonitas, além de funcionais.
O que é bonito?
Existem muitas leituras possíveis sobre o que é bonito, desde as mais neutras até as mais influenciadas por estereótipos correntes.
Para esse texto e para um caráter de ilustração, vou reduzir nosso olhar para duas formas de entendermos essa construção:
Leitura pela cultura: Baseada em ideais sociais sobre o que seria bonito ou não, que pode mudar de tempos em tempos e de sociedade para sociedade.
Leitura pela configuração: Baseada em como o artefato foi construído e se ele possui elementos que garantam princípios básicos para o bem-estar humano, como equilíbrio e estabilidade.
Em uma leitura pela cultura, poderíamos olhar para a obra “As Três Graças” de Rafael Sanzio (aprox. 1504) e compreender o ideal de bonito para corpos no renascimento italiano, por exemplo.
Para uma leitura pela configuração poderíamos olhar para essa mesma obra ou para outras com um olhar focado em seus elementos construtivos.
Por exemplo, na obra “Madame Cézanne em uma cadeira amarela” de Paul Cézanne (1888-90), poderíamos falar sobre como a obra consegue manter equilíbrio e estabilidade em sua configuração com uma distribuição visual cuidadosamente controlada.
Normalmente ambas as leituras andam juntas para a construção do bonito, contudo o design industrial foca mais fortemente na configuração, observando a cultura como uma inspiração.
Isso para não comprometer o produto com elementos de moda ou passageiros que podem até gerar desconforto social.
Apesar disso, o designer nunca será insensível a cultura e seus ideais na concepção dos seus projetos.
O bonito vende mais: Uma função do design
Já é bem divulgado que o design não trata só do bonito, mas nem por isso abandona esse olhar.
Segundo Bernd Lobach, por exemplo, os produtos possuem três funções na relação com os clientes:
Função prática: São funções práticas todas as relações entre um produto e seus usuários que se situam no nível fisiológico e de uso.
Função estética: A função estética é a relação entre um produto e um usuário no nível psicológico e sensorial.
Função simbólica: A função simbólica dos produtos é determinada no nível místico e social.
Todo objeto de design ou produto industrial possui, em maior ou menor escala, a presença dessas três funções.
Quando a função prática entre os produtos se assemelha muito, é justamente o caráter estético e simbólico que vai fazer a diferença.
Segundo Bernd Lobach, os fatores estéticos conseguem alavancar maior apelo na hora da venda, principalmente se estiverem associados a outros valores.
Esse valor adicional pode ser uma embalagem que, além de mais bonita, não impacta o meio-ambiente por ser biodegradável, por exemplo.
A função estética a serviço da unidade visual
No exemplo da máquina de engrenagem vemos como a aplicação consciente de recursos visuais e estéticos torna o maquinário mais harmônico e equilibrado.
Isso é interpretado pela mente humana como algo mais agradável o que também resulta em aumento de credibilidade sobre a qualidade do produto em si, que pode ser entendido como mais resistente, durável e até mais eficiente e eficaz.
A estética a serviço da função
Na escala para balança doméstica vemos que na versão A a ordenação dos elementos não era ótima para atrair a atenção do observador, porque não havia nenhum ponto que se sobressaísse do conjunto para orientar a percepção do observador.
Devido à distribuição uniforme dos elementos sobre a superfície da escala, a atividade perceptiva é dificuldade, por falta de pontos referenciais.
O projeto foi modificado, como visto na versão B, reforçando-se os traços, aumentando-se os números nos pontos mais importantes da escala e estruturando-se melhor o conjunto. Assim se facilitou uma melhor leitura.
Isso significa para o usuário da balança poder sentir maior segurança no processo de leitura, aqui entendida como sensação, ou estado psíquico.
Assim vemos que não se pode negar a importância do bonito como diferencial competitivo e que ajuda as empresas a venderem mais.
Contudo, também é importante que se debata cada vez mais esse apelo para ele ser consciente.
Isso para evitar possíveis injustiças ou mesmo que o bonito seja usado de má fé para ações maliciosas ou esconder ações, produtos e comportamentos prejudiciais às pessoas e à sociedade.
Referências
LOBACH, Bernd. Design Industrial. Rio de Janeiro: Edgard Blucher, 2000. Disponível em: <https://faberhaus.com.br/design-industrial-bernd-lobach/>. Acesso no dia da postagem.
ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. Ed. re. São Paulo: Cengage Learning, 2017.
Atila Iamarino. O segredo do sucesso. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=vfUvPPfdsuU>. Acesso no dia da postagem.
ABDF. Disponível em: <https://abdf.org.br/biblioteca-virtual-convide-i9/pesquisas-brasileiras/roda-viva-com-o-biologo-atila-iamarino>. Acesso no dia da postagem.
David de Michelangelo. Disponível em: <Por Livioandronico2013 – Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=45536718>. Acesso no dia da postagem.
As Três Graças de Rafael Sanzio. Renascimento Pintura. Disponível em: <https://renascimento-pintura.blogs.sapo.pt/1061.html>. Acesso no dia da postagem.
Madame Cézanne em uma cadeira amarela, 1888-90. Meisterdrucke. Disponível em: <https://www.meisterdrucke.pt/impressoes-artisticas-sofisticadas/Paul-C%C3%A9zanne/820598/Madame-C%C3%A9zanne-em-uma-cadeira-amarela,-1888-90.html>. Acesso no dia da postagem.
Celular de ouro 24k. RK Imports. Disponível em: <https://www.rkimports.com.br/produtos/iphone-14-pro-max-512gb-ouro-24k/>. Acesso no dia da postagem.