Ben Oliveira, autor do livro Escrita Maldita, fala sobre seu trabalho como escritor e seus projetos mais recentes envolvendo a arte da escrita e da literatura.
Perfil – Ben Oliveira
Nome: Ben Oliveira.
Se formou em: Comunicação Social com habilitação em Jornalismo.
É conhecido por ser: Apaixonado por livros: leitura e escrita.
Odeia demais: Ódio é uma palavra forte, mas não gosto de homofobia.
Ama muito: Café. Nada como uma xícara quente para acompanhar a leitura ou embalar a escrita.
Fica feliz quando: Recebo mensagens de leitores dizendo que foram tocados de alguma forma por minhas palavras, seja quando sentiram agonia com alguma história mais sombria ou que se emocionaram e se conectaram com os personagens a ponto de esquecerem um pouco dos problemas.
Tem medo de: Radicalismos. Acredito que o ser humano pode ser mais assustador do que qualquer monstro ficcional. Essa necessidade de mostrar poder e oprimir é algo que me provoca mal-estar. Nos mostra o quanto as tragédias históricas promovidas por opressores não serviram de lição e muitas pessoas insistem na repetição.
Não tem medo de: Filmes de terror. Sou fascinando por filmes do gênero e acredito que para algumas pessoas, essas narrativas audiovisuais podem ser relaxantes, provocar catarse, quando nos transporta para outra realidade. É um medo que conseguimos medir, diferente da imprevisibilidade da vida real.
Entrevista
Quando você decidiu ou percebeu que queria ser escritor?
Ben Oliveira – Ser escritor nos dá uma visão diferente sobre a vida. Sempre fui muito apegado aos livros, embora durante os anos escolares isso nunca pareceu uma opção.
Se o desincentivo à leitura de obras que não eram consideradas importantes para o ingresso ao vestibular sempre foi uma realidade, imagine só a ideia de escrever? Então, mesmo quando eu escrevia contos ou textos um pouco mais ácidos, era repreendido por alguns professores de redação.
Sempre gostei de me perder em universos ficcionais, seja através de jogos, filmes e séries ou livros. A ideia de contar minhas próprias histórias não me parece estranha.
No ensino médio, quebrei a cabeça com a noção de que os livros que eu gostava de ler não importavam para o vestibular e como poderia encontrar alguma atividade profissional que me possibilitasse usar essa paixão. Mas foi somente durante a graduação em jornalismo que vislumbrei.
Tudo começou em um exercício de escrita criativa. Posteriormente, comecei a rabiscar mais ideias e caçar concursos literários para participar. A ideia de criar minhas próprias histórias, escrever o que eu tinha vontade de ler e nem sempre encontrava, foi o que me encantou.
A literatura na escola, muitas vezes, é associada com obrigação, mas quando vemos as múltiplas possibilidades da leitura e como a escrita pode ser um exercício de criação – nada quadrado como o que muitas vezes é ensinado –, também percebemos que existem livros nacionais para todos os gostos.
Atualmente você trabalha com outras atividades além de escritor?
Ben Oliveira – No momento estou me dedicando à escrita do meu próximo livro de terror, cujo título provisório é O Terceiro Véu e finalizando a escrita do segundo livro de uma série de fantasia com temática de bruxos.
Além dos textos ficcionais, também tenho um blog no qual compartilho indicações de leitura e conteúdos relacionados ao universo dos livros.
Quando você começou a se considerar oficialmente escritor?
Ben Oliveira – Em 2013, quando publiquei meus primeiros contos. Antes disso ser escritor parecia algo bem distante. Foi quando vi que havia potencial em minhas narrativas que considerei a possibilidade.
Também tive um original de um romance que ficou entre os pré-finalistas de um prêmio literário. Quando em mais de 200 inscrições, o seu material fica entre os pré-finalistas, algo se acende dentro de você.
Antes dessas primeiras conquistas, eu escrevia e lia livros sobre escrita criativa. Estava me preparando, mas tive que passar por esse processo de construção. Um dos hábitos foi o de recomendar livros no meu blog, isso me fez ter uma leitura mais atenta e perceber os diferentes estilos e ajudou com o desenvolvimento da minha própria escrita.
É importante essa noção de que a literatura não é homogênea, que cada escritor encontra o seu próprio jeito e também perceber as transformações de acordo com o tempo e biografia dos autores.
Qual é a parte mais difícil ou desafiadora de ser escritor na sua opinião?
Ben Oliveira – Todas as etapas da escrita são desafiadoras. Começar, muitas vezes, é uma das partes mais difíceis. Continuar escrevendo também é um exercício de disciplina e imaginação. Bem como finalizar, revisar e editar, para lapidar a narrativa.
No entanto, o desafio maior de ser escritor no Brasil ainda é o reconhecimento e o investimento, é lidar com o preconceito – muitos leitores têm o hábito de consumir mais literatura estrangeira do que nacional (isto quando existe a leitura, afinal, sabemos que o índice é bem baixo no país) e de associar a literatura nacional com escritores que foram ensinados em sala de aula.
O escritor não só precisa escrever, como também lida com o próprio marketing. É preciso confiança. Não há garantias. A Síndrome do Impostor, por exemplo, é algo bem comum no meio – lidar não só com o próprio pessimismo, mas com a insatisfação geral.
São muito mais contras do que prós. As plataformas de histórias online têm ajudado a preencher esse espaço, a mostrar que existem muitas narrativas sendo escritas por brasileiros e que os leitores têm interesse em consumir, mas em relação ao retorno financeiro (o que possibilita ao autor investir tempo para pesquisar, planejar e escrever) ainda é algo bem desafiador em nosso país.
Publicar está cada vez mais fácil, mas se manter produtivo e/ou continuar investindo em si mesmo, é algo que faz muitos desistirem nos primeiros anos.
O que mais gosta no ato de escrever ou de ser escritor?
Ben Oliveira – Gosto da possibilidade de me perder nas histórias e possibilitar ao leitor a mesma sensação.
Todos nós precisamos de uma válvula de escape, especialmente em tempos difíceis como os que estamos vivendo. Ao escrever, consigo me transportar para este universo. Acaba sendo um exercício bem catártico dependendo do que estou escrevendo.
Além da escrita ficcional, também gosto de usar a escrita para limpar a própria mente.
Qual foi o projeto/livro mais interessante no qual você trabalhou até hoje? Como foi?
Ben Oliveira – Até o momento foi o meu livro Escrita Maldita. Tem sido uma experiência muito bacana ver como as pessoas reagem com a leitura.
Escrever terror é um desafio. Eu tentei transportar o leitor para essa loucura que é o processo de criação, mostrando como pode ser intenso quando dois escritores se juntam para escrever um livro.
Cada um de nós tem sua própria bagagem e isso influencia completamente o processo de escrita. Então, a ideia foi colocar um escritor best seller novato para se encontrar com um escritor veterano e juntos produzirem uma obra.
Há referências externas e internas, conscientes e subconscientes, eu acabei mergulhando na pele do personagem principal e a mesma sensação agoniante que alguns leitores têm de asfixia, foi algo que eu senti enquanto escrevia. Precisava colocar o último ponto final para conseguir respirar com tranquilidade. Foi um romance bem intenso de escrever.
Que conselho daria para quem está começando uma carreira profissional agora nessa área?
Ben Oliveira – Tenha paciência e pesquise bem para não se frustrar. Ser escritor não é fácil, mas não é impossível.
Ao longo do caminho existem muitos desafios e ciladas. É preciso discernimento na hora de fazer suas escolhas, principalmente relacionadas à publicação.
Muitos escritores ficam ansiosos pela publicação dos livros e, em alguns casos, sonhos viram pesadelos.
Outro conselho que eu daria seria o de ler outros autores brasileiros. É meio estranho quando escritores querem ser lidos, mas não consomem livros nacionais.
Pode ser uma ótima forma de conhecer outros colegas, fazer amizades, trocar ideias e incentivar a leitura de escritores brasileiros contemporâneos.
Que escritor ou escritores você admira? Por quê?
Ben Oliveira – Há tantos escritores que admiro. Creio que cada leitura tem algo a nos ensinar.
Além de admirar Edgar Allan Poe e Stephen King, dois autores de terror de diferentes gerações e que despertaram o interesse da leitura para o gênero e serviram de inspiração para tantos escritores, nos últimos tempos tenho apreciado o trabalho do Neil Gaiman.
Além de ser ousado, é um autor que bate na importância da leitura e está sempre envolvido em projetos de promoção da literatura.
O que te inspira a criar seus trabalhos? De onde você tira a energia e inspiração para conceber novos projetos?
Ben Oliveira – Cada história vem de um jeito diferente. Gosto de dizer que quando uma história quer ganhar forma, mesmo quando pareço esquecê-la, ela volta da mesma forma ou de forma diferente.
Algumas ideias martelam na mente até elas ganharem vida. Cada projeto vem no seu ritmo, no seu tempo.
Minha energia vem deste sonho louco de escrever. Minha inspiração vem da proposta de proporcionar aos leitores a mesma importância que os livros tiveram na minha vida.
Como é seu processo de criação?
Ben Oliveira – Meu processo de criação não segue um padrão. Acredito que cada projeto tem um ritmo diferente, uma forma.
Escrever um conto e um romance exigem tempo e energia distintos, por exemplo.
Tento escrever diariamente, mesmo que não tenha relação com os projetos que estou escrevendo. É uma forma de não deixar a escrita enferrujar.
Gosto de anotar ideias no papel ou no computador, mesmo que acabe apagando elas depois. Às vezes, tenho delimitar os plots principais, mas é durante a própria escrita que as coisas vão desenrolando. Nem sempre o que era esperado acontece. Os personagens ganham vida e vontade própria.
Ao escrever, o escritor também se surpreende. É engraçado quando você acompanha e percebe que reviravoltas que deixam o leitor fora de si, também foram bem emocionantes na hora de imaginar e escrever.
Você consegue eleger seus trabalhos favoritos, ou alguns deles para falar? Quais são eles e como foi criá-los?
Ben Oliveira – Escrita Maldita está disponível na Amazon em eBook. Como falei acima, é um livro de terror com dois personagens escritores principais. Para quem tem vontade de imaginar essa situação, tentei passar ao leitor essa sensação.
Tenho uma série de fantasia voltada para o público jovem disponível no Wattpad. A série se chama Os Bruxos de São Cipriano e até o momento conta com dois livros e milhares de leituras. É o tipo de livro que eu gostaria de ter lido quando era mais jovem.
Onde você busca informações para aprender mais ou se manter atualizado sobre essa atividade profissional?
Ben Oliveira – Muita leitura. Leio não só livros de ficção, como também livros sobre a arte de escrever e tento me manter atualizado sobre o mercado editorial acompanhando as transformações não só no Brasil, como no mundo, levando em conta que algumas mudanças demoram para chegar por aqui.
É sempre interessante conferir artigos de outros escritores e profissionais da indústria do livro.
E para fechar, por onde podemos seguir você?
Ben Oliveira – Pelo Twitter, Facebook e pelo meu Blog .
As dicas do Ben
Uma música ou uma playlist:
Ben Oliveira – Recomendo o álbum Water For Your Soul, da Joss Stone.
É um álbum que traz músicas que mexem com a alma. Dá para sentir a empolgação da cantora. É como um grito de liberdade.
Aliás, a Joss tem um projeto bem bacana no YouTube. Dá para conferir parcerias dela com músicos de diferentes lugares do mundo, especialmente de países que não têm tanta visibilidade e oportunidades – um gesto bonito de usar o alcance que ela tem, como uma vitrine de talentos musicais e para mostrar como a música pode unir pessoas de diferentes culturas.
Um livro ou um escritor:
Ben Oliveira – A Espécie Fabuladora, da Nancy Huston. É uma leitura gostosa para entender a importância de contar histórias em nossas vidas.
De escritor, recomendo o David Levithan. É um autor que tem produzido uma literatura voltada para o público jovem adulto que soma bastante aos nossos dias, trabalhando questões relacionadas à empatia e ao preconceito. Ele é autor de livros que eu gostaria de ter lido durante a adolescência.
Um filme ou uma série:
Ben Oliveira – Indico a série O Exorcista.
Esse roteiro ficou muito bom e fiel ao universo do William Peter Blatty, autor do livro.
Para quem gosta de terror, conseguiram manter a essência e explorar os conflitos internos dos personagens principais.
E meu super obrigado ao Ben por ter aceitado bater esse papo com a gente!