O aprisionamento da sexualidade e seus malefícios

O aprisionamento da sexualidade foi tema de O Armário: Vida e Pensamento do Desejo Proibido do psicólogo Fabrício Viana com foco na homossexualidade.

O autor parte do relato de sua vida pessoal e depois aborda questões históricas, psicológicas e comportamentais incluindo as influências da família, educação e religiosidade.

O livro se inicia com o autor contando como foi a descoberta de sua própria homossexualidade e suas experiências a partir de então. No decorrer desse capítulo é possível verificar os desafios que ele percorreu para adentrar no ambiente gay, praticamente o desbravando sozinho com o auxilio da Internet e de uma boa dose de coragem (não sei se eu mesmo teria a coragem que ele teve).

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No decorrer desse capítulo o autor ainda relata seus conflitos familiares, a história de seus relacionamentos e uma visita inesperada de sua mãe a uma boate gay. Seguindo, ele nos apresenta os conceitos que culminaram na expressão “armário”, representando um esconderijo para os sentimentos gays, e também os motivos que levam ou mantém as pessoas dentro desse armário psicológico.

A seguir o autor aborda brevemente a homossexualidade na história e o início da forte disseminação dela como um pecado a partir da ascensão da religião Hebraica, bem como os impactos negativos relacionados a essa expressão sexual devido a educação “heteronormativa” em que vivemos (o autor não usa exatamente esse conceito como exemplificação, eu que escolhi o termo para sintetizar a ideia).

Seguindo o psicólogo dedica um capítulo inteiro para abordar a saída do armário, vantagens e desvantagens ocasionais, e parte para apresentar a formação e impacto do machismo na nossa criação, com certeza um dos meus capítulos favoritos, onde o conceito de homofobia é extrapolado e mostra até a violência contra a mulher e o conceito do feminino como algo inferior e indesejado.

“[…] não só os gays são discriminados, mas as mulheres, transexuais e tudo que venha a representar o feminino (ou o mais fraco) fazem parte desta discriminação” (VIANA, 2010, p. 117).

O livro é fechado com o relato do autor sobre a importância do autoconhecimento e da pesquisa correta por informações a respeito da homossexualidade para que possamos mudar o quadro deturbado em que vivemos.

De um modo geral, o livro é uma ótima escolha para quem está iniciando seus estudos sobre o tema tanto pelos dados interessantes que apresenta quanto por sua linguagem leve e direta.

O autor, bacharel em psicologia, possui diversos projetos voltados ao público homossexual, escreve artigos para portais e revistas, já concedeu diversas entrevistas discutindo a homossexualidade e possui outras obras com esse tema.

Para quem quiser conhecer mais sobre ele, acesse seu site oficial, enquanto isso seguem algumas citações que mais gostei do livro.

Citações selecionadas sobre o aprisionamento da sexualidade

“Afastar-se do amado, até por alguns dias, é ótimo para qualquer relacionamento (considere como uma importante dica!)” (VIANA, 2010, p. 47).

“Sem dizer que discutir ou falar sobre religião é algo bastante complicado para muitos deles [religiosos], pois a maioria de seus conceitos e crenças religiosas – aprendidos desde criança – já fazem parte de sua personalidade. E ir contra  suas crenças é a mesma coisa do que ir contra eles, ou parte deles.” (VIANA, 2010, p. 81).

“A única coisa que você não aprende é que no mundo existem mais de 2.000 religiões diferentes, uma quantidade absurda de deuses e que você só conhece e está seriamente comprometido com uma delas. E que, obviamente, “é a melhor de todas”, ou a única verdadeira” (VIANA, 2010, p. 82).

“[…] um desejo não é eliminado, ele ou é satisfeito ou reprimido. Essas práticas de cura não eliminam o desejo, apenas reprimem o comportamento homossexual, pois o desejo continua ali, incomodando” (VIANA, 2010, p. 85).

“[…] baixo autoestima (não se sentindo capaz, não confiando em si mesma, não se amando, não tendo perspectivas sobre seu futuro, não tendo ambição, etc.)” (VIANA, 2010, p. 87).

“O processo é o que já conhecemos. Os desejos não somem simplesmente. Eles ficam lá incomodando. E, como eles não desaparecem, o cara passa a odiá-los com uma grande força destrutiva (ele quer que o desejo seja definitivamente eliminado, destruído)” (VIANA, 2010, p. 92).

“Porém, este ódio interno e intenso não resolve o problema. Pois os desejos não são destruídos (eles são apenas satisfeitos ou reprimidos). Mas o ódio persiste e passa a ser transferido externamente para tudo e qualquer coisa que lembre aquilo que o incomoda internamente” (VIANA, 2010, p. 92).

“Nesse sentido, é fácil entender sua fixação e ódio à homossexualidade, travando verdadeiras batalhas externas (com os homossexuais), mas que representam lutas internas, que é a rejeição dos seus próprios desejos transferidos ao outro” (VIANA, 2010, p. 93).

“Então, o que ele [jovem homofóbico] evitava nos outros era uma representação (bastante agressiva) daquilo que ele evitava dentre de si” (VIANA, 2010, p. 94).

“[O que leva alguém que poderia estar se divertindo, transando, amando ou fazendo qualquer outra coisa a se dedicar a movimentos contra homossexuais, afinal há] quem simplesmente não concorda ou não aceita a homossexualidade. Todos têm esse direito, de concordar ou não. Mas odiar é outra história” (VIANA, 2010, p. 95).

“Nessa mesma linha de raciocínio dá para entender alguns crimes cometidos em que um homossexual é morto com mais de 30 facadas, algumas dadas até depois de morto. Exemplo que mostra sua fantasia de querer, por meio do outro, eliminar aquilo que mais odeia em si” (VIANA, 2010, p. 95).

“Então, quando você presenciar alguma manifestação homofóbica, sutil ou agressiva, vindo de quem quer que seja, pense nisso. Pense no quanto aquela manifestação tem ligação íntima com seu autor. E que quanto mais agressiva, mais ele luta para destruí-la nos outros” (VIANA, 2010, p. 96).

“[…] não só os gays são discriminados, mas as mulheres, transexuais e tudo que venha a representar o feminino (ou o mais fraco) fazem parte desta discriminação” (VIANA, 2010, p. 117).

“Afinal, é na discriminação do outro, inferiorizando-o, que eu me sinto forte, dominador, macho e soberano [maquiando minha própria fraqueza]” (VIANA, 2010, p. 120).

“[Todos nós, homens e mulheres, temos energias masculinas e femininas em nossa psique, mas] da mesma forma que a homofobia é construída contra homossexuais (o cara tem desejos, odeia-os e transfere o ódio aos outros), a negação desta energia feminina no homem tem resultados semelhantes a ela. É o caso, bem frequente (por que será?) de homens que batem em mulheres. Sua negação e ódio ao seu feminino [percebido como algo inferior, segunda classe], graças ao machismo, é tão grande que acabam transferindo [tudo isso contra elas]” (VIANA, 2010, p. 121).

“Então, entre os próprios homossexuais, o homossexual passivo é considerado inferior a todos os outros. E o homossexual ativo (que penetra) é idolatrado e bastante procurado. Afinal, ele ainda representa a [fantasiosa] masculinidade, a virilidade, a potência e o poder do macho” (VIANA, 2010, p. 125).

Referências

VIANA, Fabrício. O armário: Vida e Pensamento do Desejo Proibido. 4. ed. Bons Livros Editora Digital, 2010.

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