Maquiavel é um dos poucos nomes que despertam reações muito diversas e até opostas.
Para algumas pessoas, ele representa o símbolo da frieza política e da manipulação sem escrúpulos.
Para outras, Maquiavel é um pensador lúcido, realista e profundamente útil para quem deseja entender como o poder funciona de verdade.
Inclusive, uma das suas principais obras, O Príncipe, não é um manual de maldades, como muitos acreditam.
É uma obra de observação prática.
Maquiavel analisou os erros e acertos dos governantes do seu tempo e traçou estratégias para conquistar, manter e expandir o poder.
E o mais curioso: embora tenha sido pensado para príncipes e líderes políticos da Renascença, seus ensinamentos continuam extremamente atuais para profissionais que ocupam ou desejam ocupar posições de influência até hoje.
Provavelmente isso se deve ao fato de que no mundo corporativo cada vez mais complexo que vivemos — onde nem sempre vence quem trabalha mais, mas sim quem entende melhor os jogos de poder, influência e percepção —, a leitura de Maquiavel se torna quase uma necessidade.
Ele ensina, por exemplo, que:

1. A aparência importa mais do que a essência.
O que as pessoas veem e acreditam é mais importante do que o que realmente é.
No mundo das reuniões e apresentações, isso vale ouro.
2. O apoio do povo é mais seguro que o apoio dos poderosos.
Na prática moderna, é o equivalente a cultivar a confiança da equipe e dos usuários finais, não apenas da alta gestão.
3. É melhor ser temido do que amado, se não puder ser os dois.
Uma lição sobre autoridade: firmeza gera respeito. Insegurança demais, não.
4. Os fins justificam os meios (com responsabilidade).
Maquiavel nunca disse essa frase literalmente, mas defendeu que, para manter a ordem e o bem comum, um líder deve fazer o necessário — mesmo que isso envolva decisões duras.
5. A sorte (Fortuna) favorece quem está preparado (Virtù).
Esperar a oportunidade sem estar pronto é perder o timing.
Virtù é proatividade, competência e astúcia, qualidades essenciais para qualquer profissional que deseja crescer.
Como aplicar Maquiavel no mundo profissional (sem ser antiético)
Ler Maquiavel não é um convite ao cinismo, mas sim à inteligência estratégica.
Suas ideias podem ser adaptadas para:
- Negociar com mais consciência, entendendo os interesses reais da outra parte.
- Liderar equipes de forma mais equilibrada, sabendo quando usar autoridade e quando ceder.
- Evitar ingenuidades, como confiar demais em quem ainda não demonstrou lealdade.
- Planejar movimentos de carreira, sabendo como se posicionar para conquistar espaço com legitimidade.
- Dominar o jogo da percepção, algo crucial para quem precisa se apresentar com clareza e confiança.
A importância de ler Maquiavel com olhar moderno
Em vez de julgar o autor pelo rótulo de “manipulador”, é mais interessante ler O Príncipe como um manual de leitura do comportamento humano em ambientes de disputa.
E todo ambiente profissional tem disputas, seja de ideias, de espaço ou mesmo de visibilidade.
Ao compreender os mecanismos descritos por Maquiavel, você passa a navegar melhor nesses contextos. Não para dominar os outros, mas para não ser dominado sem perceber.
Maquiavel nos convida a ver o mundo como ele é, e não como gostaríamos que fosse.
O Príncipe é um livro duro, sim, mas necessário.
Ele não ensina a ser mau. Ensina a ser esperto, estratégico e consciente do que está em jogo quando lidamos com poder, influência e liderança.
Em um tempo em que autenticidade e empatia são celebradas, Maquiavel não precisa ser deixado de lado.
Pelo contrário: talvez seja exatamente o contraponto realista que falta para você alinhar valores e estratégia sem ingenuidade, ou seja, para despertar e fortalecer nossa consciência crítica a respeito do mundo, da sociedade e das coisas.
Referências
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: texto integral. Tradução de Lívio Xavier. Edição especial. São Paulo: Edipro, 2018.