Engajar times de design é um grande desafio para qualquer profissional que assuma esse papel na área são diversas variáveis para lidar diariamente, mas boas técnicas podem ajudar.
Reuni, por exemplo, algumas dicas passadas pelo Prof. Dr. Wagner Machado e pelo Prof. Dr. Leandro Karnal que me inspiraram bastante.
A motivação como base
A motivação é a base para engajar as pessoas em qualquer atividade que elas venham a executar. Porém a ciência da motivação não é exata e pode ser difícil até mesmo para nós entendermos por que temos mais motivação em uma coisa e menos em outras.
Um caminho possível para trazer maior entendimento para isso no ambiente de trabalho é o Continuum de Autodeterminação, proposto por Gagné e Deci (2005).
No desenho proposto pelos autores é mostrado um caminho que parte da desmotivação total até a motivação intrínseca, responsável pelos maiores índices de engajamento.
A desmotivação acontece quando não existe uma regulação intencional, ou ainda, nada nos motiva a fazer tarefas.
Quando as regulações começam a surgir, porém de forma externas, ou seja, estímulos fora de nós que nos motivam a realizar as tarefas, nos podemos compreendê-las como motivações extrínsecas.
A motivação extrínseca passa por quatro estágios no caminho até a motivação intrínseca:
- Regulação externa: Coisas externas que nos motivam usando recompensas e punições como, por exemplo, salário ou descontos.
- Regulação introjetada: Coisas externas que nos motivam psicologicamente como, por exemplo, elogios e reconhecimentos diversos.
- Regulação identificada: Coisas externas com as quais concordamos como, por exemplo, objetivos e valores da empresa.
- Regulação integrada: Coisas externas com as quais nos identificamos e falam com partes internas nossas como, por exemplo, coerência entre os objetivos e valores da empresa e os nossos próprios objetivos e valores.
A motivação intrínseca está totalmente relacionada a coisas internas e de grande importância para nós. Essas atividades são tão interessantes e importantes que o simples fato de as fazermos já nos causa prazer.
O ponto aqui é encontrar onde estão os estímulos atuais que a empresa proporciona para os colaboradores e trabalhar para se aproximar ao máximo da motivação intrínseca.
As 7 necessidades básicas do trabalho contemporâneo
Outro aspecto importante no caminho de engajar times é atentar para as necessidades mais básicas do trabalho.
Muito além dos fisiológicas, hoje o trabalho tem aspectos mais psicológicos dentro das suas necessidades básicas para ampliar a motivação e o engajamento das pessoas, como podemos ver a seguir.
- Demandas: É a composição da carga de trabalho ideal, padrões de trabalho bem estabelecidos e o ambiente (somatório das condições físicas e emocionais).
- Relacionamentos: É a composição da construção do trabalho positivo com gerenciamento preciso de conflitos e de comportamentos inaceitáveis (como assédio).
- Controle: É a abertura e liberdade que cada colaborador tem para definir a maneira de fazer o seu trabalho.
- Papel: É a promoção da compreensão do papel que cada um tem na empresa e o cuidado para evitar o desenvolvimento de papeis conflitantes.
- Suporte dos colegas: É o incentivo, patrocínio e recursos oferecidos pelos colegas de trabalho.
- Suporte do líder: É o incentivo, patrocínio e recursos oferecidos pela liderança e pela empresa.
- Suporte nas mudanças: É a comunicação e o gerenciamento cuidadoso das mudanças da empresa.
Aqui o ponto é observar a saúde de cada um desses itens para proporcionar um bom equilíbrio entre eles, uma vez que juntos eles proporcionarão um ambiente mais engajador e acolhedor para as pessoas.
Engajar times de design buscando o Flow nas rotinas
O Flow, ou fluxo, é um estado mental descrito por Mihaly (1999) como um momento onde a sua concentração é intensa e totalmente dirigida ao que você está fazendo.
São aqueles momentos onde nossa consciência se funde completamente com a ação e até perdemos a noção de tempo e espaço, ficamos totalmente imersos e temos altíssima satisfação simplesmente fazendo a tarefa.
Diferentes coisas podem gerar esses momentos de flow nas pessoas, mas um caminho bom para seguir é equilibrar a motivação com as necessidades básicas do trabalho contemporâneo que vimos anteriormente.
Contudo o aspecto mais importante para se alcançar o flow é o equilíbrio entre as tarefas e demandas com nossas habilidades e recursos para realiza-las.
Se observarmos os estudos sobre flow do Mihaly (1999) com os de bem-estar no trabalho Russel (1980), veremos como ambos encontraram maior engajamento no fino equilíbrio entre esses dois pontos.
Nem todas as nossas tarefas estarão no perfeito estado de flow, mas quanto mais próxima ela estiver disso, maior será o engajamento das pessoas.
Nesse ponto é ideal o líder observar e acompanhar as habilidades e recursos que seus colaboradores têm para executar as tarefas e as demandas.
Além disso, vale sempre o olhar atento para prever a necessidade de novas habilidades no time de acordo com demandas e tarefas que vão surgindo, assim é possível prepara-los quanto antes, evitando estados negativos no trabalho.
Claro que isso tudo será praticado por cada líder de acordo com seu próprio estilo de liderança, o que também reforça a necessidade de os líderes conhecerem seus estilos próprios e seus propósitos nessa trajetória.
4 estilos de liderança positiva e sua influência para engajar times de design
Segundo Goleman, Boaytiz e McKee (2002) existem quatro tipos de liderança positiva e elas influenciam os times de maneiras diferentes.
O estilo afiliativo tem grande foco em relacionamentos com uma capacidade excelente para o gerenciamento dos afetos dentro do trabalho, são exímios em entender e proporcionar harmonia e resoluções de conflitos na equipe
O estilo coach tem grande foco em relacionar demandas com pessoas certas, criando um conhecimento consistente sobre como desenvolver cada pessoa e otimizar seus esforços para alcançar o melhor resultado, tanto para equipe, quanto para o profissional em si.
O estilo democrático tem grande foco em administrar seu suporte e o suporte do time para o desenvolvimento das pessoas promovendo colaboração e integrando diferentes profissionais e perspectivas. Para promover a democracia esse estilo procura o máximo de informação para as tomadas de decisão.
O estilo visionário tem grande foco no suporte e promoção da mudança com uma visão ambiciosa e promovendo forte inspiração para que o time atinja os objetivos, muitas vezes bem ousados.
Cuidando desses aspectos principais já temos um bom caminho para a construção de um ambiente positivo de trabalho com pessoas engajadas.
Contudo, podemos dizer que não existe receita pronta de sucesso para engajar times de design, portanto tudo passará pela adaptação, recortes e reconstrução disso para as nossas diferente realidades e contextos.
Referências
Prof. Dr. Wagner de Lara Machado. Disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4251384H4>. Acesso no dia da postagem.
Prof. Dr. Leandro Karnal. Disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4703669Z5>. Acesso no dia da postagem.
CSIKSZENTMIHALY, Mihaly. A Descoberta do Fluxo: A Psicologia do Envolvimento com a Vida Cotidiana. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.